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Roberto Acioli de Oliveira

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24 de abr. de 2012

Pornografia e Imagem



"O mais
profundo
é a pele"

Paul Valéry (1871-1945)




No que diz respeito ao mundo Ocidental, o século XX mostrou tudo em matéria de arte erótica. Esta é a opinião de Paul Ardenne, para quem as razões podem ser encontradas no impudor da própria arte do século XIX. De A Origem do Mundo (1866), de Gustave Courbet, até Made in Heaven (1990), onde Jeff Koons se mostra com sua então esposa (a atriz pornô Cicciolina) numa cena de sexo, um longo caminho foi percorrido – de fato, as artes pré-cristãs grega e romana talvez fossem até mais explícitas. Forma dissimulada do desejo em ação, a arte cultiva o obsceno que a moral (burguesa) reprova. No âmbito da arte, ou fora dele, a figura erótica se arrisca a banalizar sua exibição (especialmente em tempos de internet) - algo talvez impensável em outros tempos de repressão sexual. A superexposição nos levará ao dia quando o sexo deixará de ser desejável? (que o consumidor desvie o olhar, este seria o pior pesadelo das agências de propaganda!). Se a exibição excita, o exibicionismo pode levar ao efeito inverso (1). Em 1966, Niki de Saint Phalle apresentou Figure Hon (= ela) em Estocolmo. Uma boneca gigante deitada de barriga para cima com uma abertura na vagina, por onde o visitante pode penetrar. Questões simbólicas remetendo ao ventre maternal (e à heterossexualidade) enquanto espaço protetor parecem evidentes. Por outro lado, como sugeriu Gilles Neret a respeito de Figure Hon, o desejo pode ser lúdico (2). (as imagens pertencem ao calendário da empresa de imagem EIZO)






A distância entre arte
erótica e pornografia tem
mais relação com o estilo
do  que  com  o  tema





A imagem do “sexo”, mostrar o sexo, não se restringe apenas a imagens de corpos evocando certas situações. Se admitíssemos juntamente com Freud uma dimensão libidinosa da criação artística, toda a arte estaria ligada à sexualidade – a psicanálise faz da arte um efeito da sexualidade. Seja como for, Freud acaba por dessacralizar a criação artística ao torná-la um efeito de outra coisa. O que representa então uma imagem do corpo num sentido estritamente “erótico”? Considerando o sugerido acima, tal questão deixa de ter sentido. Uma natureza morta? Uma paisagem? Um retrato de família? Uma vaca pastando? O pornográfico então acaba sendo apenas uma questão “geométrica”, uma estética purista, uma arrumação sem desejo entre corpo e objetos. De acordo com Ardenne, as fotografias de um Robert Mapplethorpe teriam de “sexual” apenas sua temática. De fato, afirma Ardennes, a imagem “sexual” é uma imagem construída. Ela se torna sexual caso se organize de forma a ativar o desejo: a dimensão espetacular, o potencial atrativo e excitante, a possibilidade de identificação por parte do espectador oferece uma articulação possível com a obra/fotografia/escultura/etc. Atualmente, mais do que nunca, sacrificamos o corpo através do sacrifício à imagem. Consumir a perdição da figura, até que a ausência da materialidade daquilo que ela representa se torne evidente (e nos massacre). Com uma função criminal tanto quanto sacrificial e estética, seria a relação humana com as imagens uma pulsão de morte? (3)




Leia também:

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As Marionetes dos Mistérios de Antonioni
O Expressionista Desconhecido
Fausto e Mefistófeles Segundo Murnau
Arte do Corpo: Natacha Merritt, Veruschka, Cindy Sherman, Carolee Schneemann, Shigeko Kubota, Yoko Ono, Jan Saudek, HR Giger, Leigh Bowery, A Dança das Trevas, As Cabeças de Gerhard Lang

Notas:

1. ARDENNE, Paul. L'Image Corps. Figures de l'Humain dans l'Art do XX Siécle. Paris: Éditions du Regard, 2001. Pp. 291-2.
2. NÉRET, Gilles. Arte Erótica. Köln: Benedikt Taschen, 1994. P. 68.
3. ARDENNE, Paul. Op. Cit., pp. 251-3, 444.

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