28 de jun. de 2008

Fetiches Digitais: Conexão Seios (III)


"Os  homens  se  deitam
eufóricos com Gilda e acordam decepcionados com Rita"


Rita Hayword, atriz norte-americana,
comentando o constrangimento que já
lhe trouxe a constatação pelos homens
de que ela não é Gilda, personagem que
um dia representou nas telas de cinema


Seios Virtuais, Violência e Morte

O mundo digital da realidade virtual também já foi invadido pelo fetiche (norte-)americano. As heroínas dos jogos de computador (também chamados no idioma colonizado brasileiro de games – leia-se “gueimes”) são peitudas e magras. Além disso, são totalmente masculinas (viris e violentas). Tiro pra cá, tiro pra lá. Tudo muito educativo é claro! Mais uma dessas modas que veio “do norte”, seios grandes nunca foi uma preferência nacional brasileira – leia-se culturalmente produzida no “seio” da sociedade brasileira. Do jeito que somos macacos de imitação, vai chegar o dia que mutilaremos a nossa preferência nacional (a bunda) só para que possamos dizer que estamos na moda – lá nos “esteites” o ideal é muito busto e pouca bunda.

Noventa por cento dos jogos de computador são vendidos para pessoas acima dos dezoito anos (1). Com isso quero sugerir que os jogos de computador não são mais feitos somente para crianças. Mas isso significa que os temas se diversificaram? Política, história, ecologia, literatura, poesia, teatro, romance, filosofia, cinema, medicina, direitos civis, mensagens contra a violência em relação à mulher/filhos/negros/pobres, esportes? Bem, não exatamente. Esportes até existem nos jogos de computador, mas o forte gira em torno de violência e morte. Jogos em que mulheres são heroínas invariavelmente não exaltam personalidades humanitárias. Vejamos alguns exemplos nos jogos, Dead or Alive, Druuna (imagem acima, lado esquerdo), Fear Effect, No One Lives Forever, Perfect Dark, Tomb Raider e Urban Chaos. As mulheres são aí representadas como meros objetos sexuais, suas armas seriam talvez símbolos fálicos que matam principalmente homens. Sendo assim, elas são gostosas e peitudas, mas ao mesmo tempo destruidoras de homens. Como os criadores destes jogos são principalmente homens, talvez Freud explique. “E como poderá um homem alguma vez ter esperança de encarnar uma mulher, mesmo sendo ela virtual?” (2)

Quem São as Peitudas Virtuais 


Joan “Perfect” Dark, a personagem de Perfect Dark e Cate Archer, a heroína sexy de No One Lives Forever, não passam de clones de James Bond em corpo de mulher; ou Lara Croft, personagem de Tomb Raider, versão feminina de Indiana Jones (ao lado). Lara Croft é uma arqueóloga, entretanto as únicas qualidades que parecem interessar aos homens/consumidores seriam uma capacidade de agir violentamente e o belo corpo. Hitomi a karateca, Tina a lutadora, Lei Fanf mestre em t’ai chi e Ayana a ninja, estas são as personagens de Dead or Alive. Morto ou vivo, como diz o título, apresenta meninas/mulheres com roupas sensuais participando de um torneio de artes marciais onde nada é ilegal. Ah, temos a opção de escolher as roupas delas! A alma de Druuna é prisioneira de um mundo dominado por um vírus que provoca a busca por sexo e sangue. O jogador deverá libertá-la. O jogo foi baseado em estória em quadrinhos do mesmo nome, apenas foram cortadas ou suavizadas as práticas sexuais violentas e a brutalidade sanguinária. Ainda assim pergunta-se, mulheres gordas e de peito caído não tem direito a estar possuídas por um vírus pornográfico?


Em Fear Effect duas mulheres (uma delas é classificada como euro-asiática) e máquinas de matar atacam o crime organizado, sem a preocupação em seguir as regras. O jogo “joga” também com o fetiche masculino de um homossexualismo feminino insinuado. D’Arcy Stern é uma policial negra armada até os dentes em Urban Chaos. Curiosamente, mesmo que as várias mulheres tenham as mais variadas origens (euro-asiática, afro-americana), isso somente fica um pouco marcado no rosto, pois no restante o corpo parece basicamente o mesmo – e os seios grandes e empinados também. (3)

Um seio é apenas um seio?

Notas:

1. CHOQUET, David (ed.).1000 Game Heroes. Köln: Taschen, 2002. P. 517.
2. Idem, p. 505.
3. Ibidem, pp. 506-41.