Nas artes
as referências
ao tubarão surgem no
século XIX. Por outro lado,
e como sugere Moby Dick,
naquela época a baleia
parecia apavorar
ainda mais
Os polinésios falavam de Kauhuhu, o deus tubarão que ficava numa grande caverna, palácio de onde nenhum visitante jamais retornou. Segundo a mitologia dos aborígenes da Austrália, o tubarão tigre Bangudja atacou um homem golfinho no golfo de Carpentária, aí deixando uma grande mancha vermelha que ainda pode ser vista hoje nas montanhas da ilha de Chasm. Os indígenas das ilhas Salomão, cuja religião é povoada por espectros, espíritos e outras manifestações sobrenaturais, acreditam que os corpos dos tubarões são habitados pelos fantasmas dos mortos. Entre os índios norte-americanos que habitavam a costa do Oceano Pacífico, as representações picturais de “cachorros do mar” eram frequentes, em memória de uma mulher que foi levada por um tubarão para se tornar um deles. Com exceção dos povos do Pacífico, as outras culturas jamais tiveram um tubarão como símbolo. As lendas europeias nunca mencionam esse animal, igualmente ausente das fábulas de Esopo. No mundo ocidental, os tubarões surgirão apenas nos livros de história natural ou nos livros de bordo dos marinheiros, onde se fala muito dessas criaturas às vezes de grande tamanho e muito misteriosas. De acordo com Richard Ellis, foi apenas recentemente que o terror em torno da imagem do tubarão entrou em nossa consciência coletiva, e talvez o cinema tenha muito a ver com isso. Depois de Tubarão (Jaws, direção Steven Spielberg, 1975), adaptação de um best-seller de Peter Benchley, espalhou o pânico pelo mundo (1). (imagem acima, Watson and the Shark, John Singleton Copley, 1778; abaixo, The Gulf Stream, Winslow Homer, 1899; há quem diga que o tubarão em primeiro plano na segunda pintura é uma cópia do tubarão da pintura de Singleton)
As poucas
pinturas do século
XIX que mostravam
tubarões, sempre como
animais ferozes, foram consideradas muito
pinturas do século
XIX que mostravam
tubarões, sempre como
animais ferozes, foram consideradas muito
deprimentes, sem
interesse
interesse
Em 1952, Ernst Hemingway fez referência ao tubarão em O Velho e o Mar. Antes disso, Willian Shakespeare fez o mesmo no século XVII, em Macbeth (ato IV, cena 1). Ellis resgatou em 1987 o relato de Moses, um indígena da ilha de Malaita, no arquipélago das ilhas Salomão, no Pacífico sul. Nessa lenda antiga, Moses conta que três anos antes estava pescando e um tubarão se prendeu em sua rede. Ele o levou para a praia e o soltou, em nenhum momento o animal tentou mordê-lo. Na terra de Moses, desde tempos imemoriais, seu povo convive com os tubarões, que são considerados seres humanos. Eles salvam os seres humanos de afogamentos e os guiam pelo mar. Entretanto, aparentemente, os aborígenes de outras partes não são respeitados, mas comidos pelos tubarões. Moses explicou que a razão disso está na lenda de uma mulher que deu a luz um tubarão, desde então o peixe é venerado e deixaram de atacar os humanos da laguna onde vive seu povo. O espírito daquela mulher entrou no tubarão, razão pela qual venerar o tubarão é o mesmo que venerar os ancestrais da tribo. Em certa ocasião festiva, o povo de Moses “chama” os tubarões até a praia e oferece a mesma carne de porco que eles estão comendo. Enquanto isso, mulheres e crianças nadam entre os tubarões, falando com eles e os acariciando. Não tentem lidar com os tubarões como o povo de Moses, a não ser que tenham o corpo “blindado” (fechado?), como certos políticos brasileiros.
Nota:
Leia também:
1. ELLIS, Richard. Mythe et Realite. In: STEVENS, John D. Les Requins. Paris: Bordas, 1987. Pp. 170-183.