22 de mar. de 2013

Máscaras: Teatros Grego e Romano





 

 
No teatro
grego    antigo,
uma boa performance
não   comunica   mais 
 nada  além  da 
máscara (1)






Valor Facial

To Prosopon eram as palavras gregas para designar, simultaneamente, rosto humano e máscara – significando literalmente “aquele que está diante de seus olhos”. De acordo com Ian Jenkins, os espectadores do antigo teatro grego não ficavam na expectativa de que a máscara fosse levantada para que a identidade de alguém fosse revelada. A máscara era apenas o objeto através do qual o ator (que invariavelmente era um homem, mesmo quando se tratava de um papel feminino) personificava seu personagem. Em latim, Persona é a palavra para designar máscara, e sua função era definir a categoria da pessoa retratada. Tanto no teatro grego quanto no romano o espectador via apenas a máscara, a personalidade do ator era neutralizada por ela. Portanto, insistiu Jenkins, esta definição de máscara nada tem a ver com aquela a que nos acostumamos nos tempos modernos, segundo a qual sua função é esconder alguma coisa que posteriormente será revelada por algum motivo. Os especialistas em teatro antigo geralmente localizam as origens dos dramas com máscaras nas danças corais do período arcaico (2). (imagem abaixo, à direita, máscara grega de comédia, século 3 a. C.)





No  que  diz
 respeito  à  pintura
e ao retrato, os romanos
 eram mais realistas do que
 os    gregos A   reprodução
 detalhada    do     rosto   só
 viria    a    interessar    os
  gregos    a    partir    da
 era romana (31 a. C
- 476 d. C.) (3)



Em Atenas, o culto de Dionísio propiciou o contexto ritual a partir do qual o teatro clássico cômico e trágico evoluiu. Um coro de dançarinos mascarados personificando sátiros ou animais aparece ocasionalmente na cerâmica ateniense do século VI a. C. Mesmo depois que o drama criou falas para os atores, ainda existia um coro de dez ou mais indivíduos em todas as apresentações. As máscaras, portanto, afirmou Jenkins, surgiram no teatro grego muito antes da época de Ésquilo e Aristófanes, e podemos perfeitamente desconsiderar a tradição grega que atribui a invenção delas à Tespis, o ator arquetípico – segundo consta, ele teria promovido a primeira apresentação da Tragédia ao diferenciar seu rosto com pó branco, antes de formalizar essa maquiagem através da utilização de máscaras. Grande parte das informações a respeito dos dramaturgos do século V a. C. (Ésquilo, Sófocles e Eurípedes) chegou a nós apenas através de pinturas em vasos. De acordo com esses desenhos, as máscaras parecem cobrir mais do que o rosto, como um capacete. O tipo facial não era exagerado, à maneira das máscaras do teatro romano e helenístico posterior, tendendo a uma expressão um tanto vazia, animada apenas pela boca escancarada através da qual o ator projetava sua voz.





Em grego antigo,
drama  vem do verbo
“fazer”, e,  literalmente,
  significa  um  ato Isto é, 
uma   ação  representada
no   palco.   A   máscara
determinava a persona
básica   que   o   ator 
iria   explorar (4)





Tais máscaras representavam tipos genéricos: jovem imberbe, cidadão barbado, rei, mulher ou deus. Neste particular, as máscaras do teatro se adequavam à convenção da escultura e da pintura gregas dos períodos arcaico e clássico, quando o retrato da personalidade do indivíduo era evitado em favor de uma forma mais idealizada. No final do século V a. C. a era do grande drama ateniense chegava ao fim. Contudo, o teatro de máscaras sobreviveu muito bem, como testemunha a popularidade nos períodos grego e romano posteriores (através de dramaturgos como Menandro, Plauto e Terêncio). Uma das características marcantes da comédia posterior foi sua tendência a uniformizar as máscaras, intensificando os estereótipos do personagem dramático. Pesquisando em fontes mais antigas, no século II d. C. Julius Pollux listou seis tipos de máscaras trágicas para homem velho, oito para homem jovem, três para diferentes tipos de servos e onze para mulheres de todas as idades, além daquelas para figuras mitológicas, divinas e heróicas, sem contar quarenta e quatro máscaras cômicas. Pollux se refere frequentemente ao onkos (imagem abaixo) como uma característica da máscara trágica (provavelmente do final do século IV d. C), a testa levantada característica de algumas máscaras greco-romanas. Aliado a isso, nota-se claramente uma expressão exagerada de horror em torno da boca e dos olhos. De acordo com Jenkins, é crucial compreender que a função da máscara na Antiguidade não era iludir/disfarçar (como num baile de máscaras). Devemos abandonar nosso impulso natural de perguntar, quando confrontados com uma máscara, quem ela esconde. Não mais pensar em se fazer esta pergunta é crucial para o entendimento da função da máscara no mundo antigo, devemos considerá-la pelo seu valor facial.





No teatro ateniense
 a máscara revela, mais
 do  que   esconde. Este
é seu valor facial (5)






Notas:

Leia Também:


1. MACK, John (ed.). Masks. The Art of Expression. London: The British Museum Press, 1996. P. 24.
2. JENKINS, Ian. Face Value: The mask in Greece and Rome. In: MACK, John. Op. Cit., pp. 151-2, 156-7, 161.
3. Idem, p. 166.
4. Ibidem, p. JENKINS, 157.
5. MACK, J. Op. Cit., p. 24.