Um pouco antes disso, a pintora mexicana Frida Kahlo está a construir mais um de seus tantos auto-retratos. Sentada e vestindo terno, segura uma tesoura olha para nós. Seu corte de cabelo é masculino, à sua volta muitas madeixas espalhadas dão testemunho de sua feminilidade esparramada. Frida se representou como homem, o corte de cabelo talvez fale mais alto nessa direção do que a vestimenta masculina. Era fascinada pela androginia, mas desejou também misturar seus traços com os de Diego Rivera. O pintor e muralista mexicano era o amor da vida dela e já no diário de Frida encontra-se o desenho de um rosto dividido em duas metades. O lado esquerdo, ostentando longos cabelos, representa uma mulher. O lado direito, um homem de cabelos curtos (1). Dois episódios num oceano infinito de exemplos que evidenciam uma obsessão em relação aos cabelos. Obsessão que talvez vá além da simples indução ao consumo de cosméticos ou do narcisismo de uma sociedade em crise de valores.
"Olha,
se te amava,
era pelo teu cabelo.
Agora que estás
careca, não
te amo
mais"
Frida Kahlo,
escrito sobre a pauta musical em seu
Auto-Retrato com Cabelo Cortado, 1940
careca, não
te amo
mais"
Frida Kahlo,
escrito sobre a pauta musical em seu
Auto-Retrato com Cabelo Cortado, 1940
Nota:
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1. BERNHEIM, François; KAMMER, Samuel; PEREGO, Elvira. Quelques Notes par... In GASCAR, Pierre. Le Cheveu Essentiellement. Paris: Nathan/Delpire, 1998. P. 102.
