
de televisão e filmes que
mostram a excitação e a
importância da vida militar,
eles podem ajudar a gerar
uma atmosfera favorável
para o recrutamento” (1)
Kenneth Bacon,
porta-voz do Departamento
de Defesa dos Estados Unidos
(Pentágono) durante o
governo Bill Clinton
O cineasta Theo van Gogh (bisneto do irmão de van Gogh) apoiou a invasão do Iraque e teve problemas com os judeus por suas posições em relação ao Holocausto. Em 2004, Mohammed Bouyeri assassinou o cineasta em Amsterdam, na Holanda. Aparentemente, porque ele também nutria inimizades entre os judeus, o motivo foi um filme onde denunciava os maus tratos às mulheres no Islã. Tudo se encaixa, um muçulmano fanático mata um ocidental civilizado (e branco). Seria apenas mais uma manchete de jornal se não escondesse uma questão mais complexa. (imagem acima, grafite comum em casas de palestinos em Hebron, na Cisjordânia, 2002; abaixo, à direita, cataz do pusilânime O Judeu Eterno, filme produzido por Hitler para denegrir a imagem dos judeus; à esquerda, em seguinda, cartaz de O Judeu Süss, filme anti-semita patrocinado por Goebbels; logo a seguir, à direita e também no final do artigo, imagem de árabe em Aladin, desenho animado produzido por Walt Disney, 1992)



No Brasil, cuja indústria cinematográfica é sistematicamente sufocada, nem temos muita chance de fazer isso. No caso dos pobres no Brasil, nós, os espectadores, os entregamos ao sadismo pedante dos noticiários de uma tv que não esconde os interesses financeiros e políticos que fazem mais esse crime compensar. Existem alguns filmes brasileiros que mostram a pobreza. Que problematizam a pobreza e mostram (para quem ainda tiver neurônios funcionando) o que está por trás da desumanização do pobre/negro. Muitos não gostam desse tipo de filme, acreditam que denigre a imagem de nosso país. Mas, o que é um país? O que faz de nós um país? Porque incomoda tanto que tenhamos coragem de mostrar nossas entranhas? (imagem abaixo, grafite no muro que Israel está construíndo em torno dos palestinos na Cisjordânia; terra palestina que o Estado judeu invadiu há décadas e de lá não saiu )
O cinema italiano do pós-guerra mostrou muito das mazelas sociais daquele país. Desemprego, déficit habitacional, corrupção, banditismo, machismo, ausência de políticas públicas para os idosos e para os jovens... Em filmes como Vítimas da Tormenta (Sciuscià, direção Vittorio De Sica, 1946), Ladrões de Bicicleta (Ladri di Biciclette, De Sica, 1948), Milagre em Milão (Miracolo a Milano, De Sica, 1950), Umberto D (De Sica, 1952), A Terra Treme (La Terra Trema - Episodio del Mare, direção Luchino Visconti, 1948), Rocco e Seus Irmãos (Rocco e i Suoi Fratelli, Visconti, 1960). Outros poderiam ser citados, o que importa é que aquele país contava com uma ampla cultura cinematográfica na população, que se enxergava na tela.

Outra atitude possível seria falar apenas dos outros. Se você puder manipular a imagem dos outros e ainda por cima transformar tudo em... entretenimento, melhor ainda! Aparentemente, é isso que uma boa parte do cinema de entretenimento norte-americano decidiu fazer. O árabe, explica Shaheen, foi construído como o “outro”, aquele que os norte-americanos devem usar como modelo para marcar sua diferença. Todo o problema é que essa diferença foi construída artificialmente em torno de estereótipos e clichês que não correspondem à realidade.
“(...) Visto através das lentes distorcidas de Holllywood, os árabes parecem diferentes e ameaçadores. Projetado junto com linhas raciais e religiosas, os estereótipos estão profundamente impregnados no cinema [norte-]americano. De 1896 até hoje, os cineastas acusaram coletivamente todos os árabes como inimigos públicos nº 1 – brutais, cruéis, fanáticos religiosos incivilizados e ‘outros’ culturais loucos por dinheiro propensos a aterrorizar ocidentais civilizados, especialmente cristãos e judeus. Muito aconteceu desde 1896 – o sufrágio das mulheres, a Grande Depressão, o movimento por direitos civis [nos Estados Unidos], duas guerras mundiais, as guerras da Coréia, do Vietnã e do Golfo, e o colapso da União Soviética. Durante tudo isso, a caricatura do árabe em Hollywood rondou a tela prateada. Ele está lá – repulsivo e não representado como sempre.
O que é um árabe? Em incontáveis filmes, Hollywood responde: árabes são assassinos cruéis, estupradores sujos, fanáticos religiosos, milionários do petróleo estúpidos, e que maltratam mulheres. ‘Eles [os árabes] todos se parecem para mim’, ironiza a heroína [norte-]americana no filme The Sheik Steps Out (direção, Irving Pichel, 1937). ‘Para mim, todos os árabes se parecem’, admite o protagonista em Commandos (direção, Armando Crispino, 1968). Décadas depois, nada mudou. Ironiza o embaixador [norte-]americano em Hostages (direção de Hanro Möhr e Percival Rubens, 1986). ‘Eu não posso diferenciar um [árabe] de outro. Embrulhados naqueles lençóis, todos parecem iguais para mim’. Nos filmes de Hollywood, eles certamente se parecem” (2)


“Por repetição
até os asnos
aprendem”
Provérbio Árabe
até os asnos
aprendem”
Provérbio Árabe
Notas:
Leia também:
O Passado Nazista do Cinema de Entretenimento
O Diferente (do Oriente) Como Bode Expiatório
O Passado Nazista do Cinema de Entretenimento
O Diferente (do Oriente) Como Bode Expiatório
1. SHAHEEN, Jack G. Reel Bad Arabs. How Hollywood Vilifies a People. Massachusetts: Olive Branch Press, 2º ed., 2009. P. 22.
2. Idem, p. 8.