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Roberto Acioli de Oliveira

Arquivos

14 de dez. de 2009

Isto é Entretenimento!


 
“É só um filme divertido.
É divertido. Para mim não
há nenhuma consequência.
É  divertido,  divertido,
apenas  divertido”

Jamie Lee Curtis,
atriz de True Lies



Uma Coisa é Uma Coisa...

O Agente Especial Harry está numa festa luxuosa na Suíça, cercado por alguns “tediosos bilionários árabes do petróleo”. Sua missão é identificar “vilões” transportando armas. Os terroristas roubaram as armas de uma ex-república soviética falida e deram um ultimato: a menos que o governo dos Estados Unidos retire suas tropas em nações árabes, eles irão detonar seis bombas nucleares sobre cidades norte-americanas. Ao mesmo tempo, Harry está deprimido com a possibilidade de sua esposa o estar traindo. Procurando acalmá-lo, seu amigo Gib exclama: “vamos pegar alguns terroristas e vamos acabar com eles. E você vai se sentir bem melhor”.

...Outra Coisa é Outra Coisa 



“A mensagem de Gib
é assustadora: deprimido?
Pulverize um árabe!”


Jack Shaheen




No final do filme, num opulento salão de baile, a elite presente é formada por norte-americanos, asiáticos, africanos, gente falando francês, e nenhum árabe. De acordo com Jack Shaheen, a mensagem de mais um filme de Hollywood é clara: quando o mundo estiver livre dos árabes, estaremos seguros afinal. Na opinião de Shaheen, True Lies (direção James Cameron, 1994) é um exemplo perfeito quando se deseja saber o quanto um filme pode perpetuar estereótipos negativos – neste caso, em relação aos árabes.


Mais especificamente, ali os palestinos são mostrados como seres sujos, demoníacos e desprezíveis. Terroristas fanáticos espreitando os Estados Unidos com bombas atômicas – aliás, este foi o primeiro filme a mostrar árabes explodindo esse tipo de coisa naquele país. Antes disso em vários filmes, entre eles De Volta Para o Futuro (Back to the Future, direção Robert Zemeckis, 1985; nesse caso são terroristas líbios), os árabes só haviam tentado. Houve protestos contra o filme na época, mas nada que impedisse o faturamento de 62 milhões de dólares nas duas primeiras semanas de exibição – para um filme que custou 110 milhões foi um bom começo.


Também acontece um striptease da atriz principal, mas a presidente da Organização Nacional para Mulheres desabafou que comparadas com os árabes, neste filme as mulheres se dão relativamente bem! Pouca diferença fez também que no filme se desse a entender que Jihad é sinônimo de violência. Como esclareceu William Stoddart:

“Outro conceito islâmico muito conhecido é o de ‘guerra santa’ (Jihād). Esta se refere exteriormente à defesa da comunidade islâmica. Interior ou espiritualmente, refere-se à guerra oculta contra o eu. O profeta mostrou a relação destes dois aspectos da guerra santa quando, depois de uma batalha, observou aos seus companheiros: ‘Regressamos da guerra santa menor (contra os nossos inimigos externos) para a guerra santa maior (contra nós mesmos) ‘“ (1)


A Fox, estúdio que produziu o filme, pagou uma entidade especializada em direitos dos animais para acompanhar os procedimentos da produção. O estúdio também convidou críticos de cinema para assistir a obra antes do lançamento. Porém, o estúdio se recusou a consultar ou reunir-se com especialistas árabes e muçulmanos residentes nos Estados Unidos – ou fora dele. Nem foram convidados a assistir o filme antes do lançamento. Pouco tempo depois do lançamento do filme, o estúdio fez uma débil tentativa para acalmar espectadores preocupados. Adicionaram uma advertência: “Este filme é uma obra de ficção e não representa as ações ou crenças de uma cultura ou religião particular”.


O problema é que a frase aparece apenas no final dos créditos, no final do filme. Shaheen declarou que, quando assistiu ao filme no cinema, ele foi o único que permaneceu na cadeira até o final dos créditos – poderíamos perguntar aqui quantas vezes vimos os créditos dos filmes rodarem até o final na televisão aberta brasileira, onde, diga-se de passagem, os enlatados norte-americanos inundam as telas.


Alguns dizem, afirma Shaheen, que esse tipo de advertência deveria vir antes do filme começar. Mas ele acredita que tanto faz, no começo ou no final, o repúdio será desprezado. Aparentemente foi a partir de 1972, em O Poderoso Chefão (The Godfather, direção Francis Ford Coppola), que a indústria cinematográfica começou a se preocupar com isso, pressionada pela comunidade italiana nos Estados Unidos. Então esse tipo de advertência começou a aparecer em filmes que apresentam estereótipos de cubanos e chineses residentes naquele país. O diretor James Cameron disse que não se sentia culpado de vilificar os árabes em True Lies. Afirmou ainda necessitar de algum “vilão conveniente”. Além disso, completou ainda, qualquer um que se refugie no terrorismo, independente de sua origem étnica ou religião, está moralmente errado e, portanto, os árabes são a escolha certa em qualquer filme. Com este tipo de afirmação, Cameron não só demonstra uma incompreensão absoluta da situação no Oriente Médio como parece desconhecer o fato de que seu próprio país foi o único a lançar bombas atômicas desde que elas foram inventadas. Parece desconhecer também que as duas bombas lançadas pelos Estados Unidos sobre o Japão durante a Segunda Guerra Mundial atingiram apenas população civil.

“Alguns espectadores reconhecem que filmes ajudam a formar atitudes. Por exemplo, no outono de 1993 [ano em que True Lies foi lançado], crimes de ódio estavam em elevação contra árabes e muçulmanos norte-americanos. De fato, a cidade de Natchez, Mississipi, estava planejando um ‘Dia Nacional de Exercício de Segurança’, apresentando um ataque terrorista simulado por um grupo fictício chamado ‘Árabes contra [norte-]americanos’. O exercício militar estava planejado para todo o Estado; a diretriz de Natchez veio diretamente da Agência de Gerenciamento de Emergência Estadual. Mais tarde, por sua conta, o prefeito de Natchez e diretor da Agência mudou o nome do grupo terrorista simulado para ‘Qualquer um contra a América [do Norte]’. Além disso, mandaram uma carta de desculpas para o Comitê Árabe-Americano Anti-Discriminação” (2)


Em 1995 houve um atentado terrorista nos Estados Unidos. Reportagens especulativas na imprensa, e anos de estereótipos nocivos, resultando em mais de 300 crimes de ódio contra norte-americanos de origem árabe (3). No final, o terrorista era um norte-americano. Apesar disso: se é árabe, está decretado que é criminoso e seu único objetivo na vida é destruir a nós e nossa propriedade. Esta pode ser uma lição valiosa para certos países latino-americanos onde, ao invés dos árabes, é a pobreza que é criminalizada.

Leia também:


Notas:

1. STODDART, William. O Sufismo. Doutrina Metafísica e Via Espiritual no Islão. Tradução Iva Vicente Flores. Edições 70, coleção Esfinge, 1976. P. 30.
2. SHAHEEN, Jack G. Reel Bad Arabs. How Hollywood Vilifies a People. Massachusetts: Olive Branch Press, 2º ed., 2009. P. 539. A Ênfase é minha.
3. Idem, p. 13. 


10 de dez. de 2009

Estética da Destruição




O maior
princípio
de beleza
é a saúde”

Adolf Hitler






Arquitetura da Destruição
(1992) (1), documentário de Peter Cohen, mostra a articulação entre o ideal estético nazista e a perseguição aos judeus. Vejamos alguns elementos desse ideal estético. A tomada do poder por Hitler incluía uma ampla “limpeza estética” das impurezas que supostamente degeneravam o espírito ariano. A meta do Nacional Socialismo era a verdadeira Pureza. Afirmavam conhecer a origem de uma grande ameaça a essa pureza que, quando erradicada, permitiria o surgimento de uma nova Alemanha.

Na música, Richard Wagner era o ídolo de Hitler, que admirava o que considerava a melhor mistura de um artista criativo e um político em um só homem. Hitler absorveu as propostas de Wagner: anti-semitismo, culto ao legado nórdico e o mito do sangue puro, arte para uma nova civilização. Um artista-príncipe nascido do povo, unindo a vida e a arte, anunciando o Estado Novo. Em certo momento, Hitler teria dito que aquele que não compreender Richard Wagner não compreenderá o Nazismo.

A escultura gozou de popularidade na lógica da estética de Hitler, pois era pública, ao contrário da pintura. O gigantismo era um elemento básico nas esculturas encomendadas pelo Partido Nazista – o que fazia delas habitantes do espaço público. Deveriam ser vistas mesmo à distância. Ninguém estaria com seus olhos longe de uma, assim que se levanta a cabeça. Ainda assim, a escultura deveria se adequar à arquitetura. Ela deveria ser pensada em função dos prédios e estádios que iria decorar. Gigantismo também em relação aos encontros da massa do povo. Nos comícios, as massas que ocupariam esses grandes espaços arquitetônicos, eram de grande importância para os nazistas – elas encarnavam o mito do Corpo do Povo alemão. A massa vista como um corpo e seu sistema circulatório, deveria buscar uma pureza racial. Pode-se dizer que Hitler foi um grande coreógrafo das massas. Ele deu forma ao nazismo, criando os uniformes, as bandeiras e os estandartes. A tristemente famosa insígnia do Partido Nazista foi criada em 1923. (imagem acima, cena de Olímpia, filme dirigido por Leni Riefenstahl, registra as olimpíadas de 1936 em Berlim, sob os olhos atentos de Hitler. A cena, muito difundida, do atleta negro norte-americano Jesse Owens vencendo os alemães é enganadora, já que nos Estados Unidos o racismo era praticamente institucionalizado)


A arte tinha grande importância dentro do ideal nazista de pureza. A degeneração cultural era considerada uma ameaça. Identificavam um “bolchevismo cultural” que estaria sendo engendrado pelos judeus. Para os nazistas, a vanguarda artística era evidência de depravação cultural e intelectual. A oposição em relação a todas as manifestações da arte moderna era considerada uma “necessidade higiênica” desse Corpo do Povo. Em 1928, fundada a primeira organização cultural nazista, tendo o comandante da SS Heindrich Himmler como um de seus patronos, é deixada sob o comando de Rosemberg. Inicialmente a Sociedade Nacional Socialista da Cultura Alemã muda seu nome para Defesa da Cultura Alemã. (imagem acima, escultura de Arno Brecker)

O Partido defenderia o Corpo do Povo, afastando de seus olhos os artistas modernos cujas obras mostrariam sinais de doença mental. A partir de 1931, o professor Paul Schultze-Naumburg faz comparações entre obras de arte moderna e fotos de pessoas com problemas físicos e mentais. A idéia era ligar degeneração com perversão artística, uma vez que em sua opinião somente se poderia encontrar os modelos dessa arte nos manicômios - nos quais, completa o professor, “se reúne a degeneração de nossa espécie”. Para Schultze-Naumburg, arte é espelho de saúde mental. Como Hitler, o professor via saúde apenas nas obras da Antiguidade greco-romana e no Renascimento. O embelezamento do mundo é um dos princípios do nazismo. Segundo a ideologia nazista, a miscigenação degenerou a beleza original do mundo; por isso a defesa de uma volta aos antigos ideais. (imagem abaixo, à direita, cena de O Triunfo da Vontade, 1935, também dirigido por Leni Riefenstahl)

O médico torna-se
um elo importante entr
e saúde e beleza - um perito em estética. Não porque agora todo mundo vai fazer plástica, mas porque vai purificar a raça: é a idéia dos assassinatos
em massa


Nenhuma outra profissão
tinha tantos membros do Partido
-
com 45% dos médicos alemães
em seus quadros



Nas palavras de Cohen: “O assassinato em massa foi a conseqüência final da ambição de Hitler em criar o novo homem. A maquiagem do culto nazista à beleza encontrou seu caminho na câmara de gás. A matança era uma missão biológica, um tributo sagrado ao sangue puro. As fábricas da morte faziam saneamento antropológico. Eram o instrumento de embelezamento”.

Notas

1. No Brasil, foi distribuído em vídeo por Cult Filmes, 1992. Em dvd por Versátil Home Vídeo, 2006.

1 de dez. de 2009

Arte Degenerada




“Porque é uma função
de Estado… evitar que um

Povo seja levado aos braços da
loucura espiritual… porque no
dia em
que esse tipo de arte de fato corresponder à concepção geral,
uma das mais severas mudanças
da humanidade terá começado;

o desenvolvimento às avessas
do cérebro humano”

Minha Luta
Adolf Hitler






É sabido que o ditador nazista Adolf Hitler havia construído um sólido padrão estético por trás de suas teorias sobre a pureza da raça ariana. Sua abordagem estava centralizada na perfeição do corpo físico ariano. Enfatizava um ideal de beleza e pureza de formas que deixava de fora toda a arte moderna. A partir de 1933, a Alemanha assistiu exposições patrocinadas pelo estado nazista que mostravam a “arte decadente” contra a qual a cultura alemã legitima deveria insurgir-se.

Na Itália Fascista de Mussolini não foi bem assim. Keith Christiansen sugere que podemos até mesmo falar de arte no Fascismo sem referência à arte fascista. Na Itália, desde as lutas pela unificação, a arte sempre esteve ligada à política e ao nacionalismo, mas as reformas sociais que advogavam nunca estavam associadas a nenhum regime político em particular. Naturalmente, a partir de Mussolini temos um estilo de arte que será defendido pelo Estado (notadamente o Futurismo de Marinetti). Entretanto, as tentativas de uniformização não surtiam efeito, o que tornava as artes na Itália facista surpreendentemente variadas se comparadas às da Alemanha nazista(1).

Do tempo do regime de Mussolini fica apenas a lembrança amarga do medo de contrariar o governo, como no comentário que o então crítico de cinema e futuro cineasta famoso (no pós-guerra) Michelangelo Antonioni escreveu a propósito da estréia de um famoso filme ultra-anti-semita feito na Alemanha. Judeu Süss era o filme, e o comentário de Antonioni foi elogioso. Consta que, um mês depois, Antonioni escreveu outro artigo em que questionava a forma maniqueísta como o judeu era inserido na trama, assim como o excesso de violência desse personagem (2). (imagem acima, Les Demoiselles D'Avignon, de Pablo Picasso, 1907. Ao lado, Mariage des Masques, de James Ensor, 1910).


Voltando à Alemanha, houve uma exposição em Dresden em 1935, mas o ponto culminante se dá na cidade de Munique em 1937, quando Hitler monta sua própria mostra da tão odiada arte moderna. Arte Degenerada (Entartete Kunst), este foi o nome dado à exibição. Dentre as 5000 obras confiscadas (e banidas) pela estética nazista, encontramos artistas como Emil Nolde (1,052 obras), Erick Heckel (759 obras), Ernst Ludwig Kirchner (639 obras), Max Beckmann (508 obras), (imagem ao lado, Irmão e Irmã, 1933 - posição correta), Otto Dix (260 obras) Outros nomes são Alexander Archipenko, Pablo Picasso, Georges Braque, Marc Chagall, Giorgio de Chirico, Robert Delaunay, André Derain, Theo van Doesburg, James Ensor, Paul Gauguin, Vincent van Gogh, Albert Gleizes, Alexei Jawlensky, Wassily Kandinsky, Fernand Léger, El Lissitzky, Franz Masereel, Henry Matisse, Lászlo Moholy-Nagy, Piet Mondrian, Edvard Munch, Georges Rouault e Maurice Vlaminck (3). Aproximadamente três milhões de pessoas viram a exposição, que foi arrumada de maneira aleatória e desorganizada, já com o objetivo de tornar as obras desinteressantes.



Comentários políticos moralizantes e slogans pejorativos eram dispostos nas paredes ao lado das obras e também no catálogo da exposição. O curioso é que essa desordenação das obras e os slogans reproduzem procedimento baseado numa idéia criada pelo Dadaísmo anos antes – cuja intenção havia sido mesmo chocar o público; um detalhe irônico, mas que dá a dimensão da problemática relação a certos comportamentos recorrentes quando se trata de questionar a validade do ponto de vista de alguém. Entretanto, a estratégia era apenas aparentemente caótica. As obras eram classificadas por temas, estes é que eram chocantes: “Fazendeiros Vistos pelos judeus”, “Insulto à Feminilidade Germânica”, “Zombando de Deus”. Tudo arrumado de forma a gerar protesto contra os judeus e contra a linha estética das obras. (imagem ao lado, O Grito, de Edvard Munch, 1893)

A intenção era mostrar a arte moderna como sendo o último capítulo de uma época de barbarismo enquanto, noutra exposição, mostrava-se aquilo que os nazistas propunham ser o nascimento de uma nova fase na cultura e na arte. Bem próximo dali, no Museu Casa da Arte Alemã, estavam expostas obras “puras” e/ou “apropriadas”, de artistas como Dürer, Cranach e Holbein, os favoritos de Hitler. Curiosamente, a freqüência foi bem menor aqui! A imprensa juntou-se aos nazistas contra a arte moderna, anunciando orgulhosamente que “a limpeza do templo da arte Alemã foi completo” (4). Joseph Goebbels, o Ministro da Propaganda, conseguiu fazer parecer que o público era o verdadeiro juiz da arte. Goebbels chamou de esnobes àqueles do povo que temiam questionar aos que ele chamava de “representantes da decadência e declínio” com sua “arrogância insolente”.


Inicialmente, qualquer obra de arte moderna em qualquer área, música, literatura, arquitetura, escultura ou pintura, era considerada “degenerada”. Posteriormente, o critério se expandiu até incluir qualquer objeto que tenha sido feito por judeus ou comunistas. A definição de “arte degenerada” incluía tudo que não se adequava ao ideal nazista. A idéia é “purificar” os museus por toda a Alemanha. Muita coisa foi vendida, trocada ou roubada. Hitler percebeu que a venda poderia ser proveitosa para os cofres do partido… O que não tinha valor de troca ou venda pelos bizarros padrões vigentes era simplesmente destruído. Em 20 de março de 1939, 1004 pinturas, 3825 aquarelas e muitos desenhos e trabalhos gráficos foram queimados nos fundos do corpo de bombeiros de Berlin - a partir da anexação da Áustria, em março de 1938, a caçada pela arte “impura” começou lá também. (imagem acima, As Mães, xilogravura de Kaette Kollwitz, 1923. Muito admirada na Alemanha, o trabalho de Kollwitz era direcionado aos problemas sociais; Ao lado, cartaz para uma das exposições de Arte Degenerada; No final do artigo, Metrópolis, Tríptico de Otto Dix, 1927/8. Dix mostra a burguesia alemã numa busca alienada pelo prazer. Ela procura esquecer os farrapos humanos e mendigos, fruto dos horrores da 1ª Guerra Mundial)


Na música, Bach, Beethoven, Brahms, Wagner e Haendel eram considerados promotores da superioridade ariana. Toda música escrita por judeus ou simpatizantes foi banida. O expressionismo abstrato na música, assim como o atonalismo, foi considerado degenerado. O jazz também foi incluído nesta lista (imagem abaixo, à esquerda, cartaz da exibição da Música Degenerada; à direita, Retrato de Emy, Karl Schimdt-Rotluff, 1919). Após as leis raciais de 1933, todos os músicos tinham que se registrar. Como resultado, muitos tiveram seus trabalhos censurados e suas carreiras encerradas. Também houve, para a música, uma exposição nos moldes daquela direcionada à pintura e escultura. Mendelssohn, Mahler e Schoenberg, foram usados como exemplo de música impura.

Mas o que propunham os nazistas? Que tipo de imagens deveriam ocupar as retinas do povo alemão? O regime nazista de alguma forma foi capaz de criar uma "arte alemã"? Estava essa arte realmente articulada com a tradição? Na verdade, a iconografia da pintura no regime nazista, dito Nacional Socialista, era bastante limitada. Poucos temas, muito repetidos, eram suficientes para expressar toda a mensagem. Peter Adam afirma que os temas do regime não eram apenas a expressão direta de idéias políticas, mas estavam também na base daquele sistema político em todos os aspectos (5). Os temas: natureza, vida no campo, a mulher alemã, retratos femininos, o homem alemão, o trabalhador, retratos do partido, retratos de Hitler, pinturas anti-semitas e abertamente doutrinárias. Como afirmou Hitler, em discurso no Dia do Partido, em Nuremberg no ano de 1935…



“Enquanto estamos certos
de expressar corretamente
na política o espírito e a fonte
da vida de nosso povo
, também acreditamos ser capazes de
reconhecer seu equivalente
cultural e realizá-lo”







No Brasil de Getúlio Vargas, que oscilava entre o nazi-fascismo e a política de boa vizinhança do presidente norte-americano Franklin D. Roosevelt, as coisas não foram tão neutras quanto se poderia esperar. Mais especificamente no Rio de Janeiro quando, em 1942, por iniciativa da Galeria Askenazy, foi realizada uma exposição desse tipo. Também chamada de Arte Degenerada, reuniu originais de artistas como Kaethe Kollwitz, Lovis Corinth, Max Slevogt, Kokoschka, Kandinsky, Chagall, Paul Klee e Woller, entre outros - tendo sido rasgada uma tela de Woller, que, aliás, vivia então no Brasil (6).

Notas:

1. CHRISTIANSEN, Keith. Italian painting. Beaux Arts Editions. 1992. P. 300.
2. RENTSCHLER, Eric. The Ministry of Illusion. Nazi cinema and its afterlife. Massachusetts: Harvard Univ. Press, 1996. Pp. 153-4.
3. ADAM, Peter. The arts of the third Reich. London: Thames and Hudson, 1992. P. 122
4. Idem, p.125.
5. Ibidem, p. 129.
6. NAVARRA, Rubem C. "A Arte Degenerada". Jornal de Arte. Campina Grande, 1966, p. 165-72 In LEITE, José Roberto Teixeira. 500 Anos da Pintura Brasileira – Uma Enciclopédia Interativa. 1999. CD-ROM.

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Quadro de Avisos

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