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Roberto Acioli de Oliveira

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16 de dez. de 2011

Arte do Corpo: Natacha Merritt e o Diário Digital


A velha questão
do desejo de contato
nunca satisfeito
, mas
também o exemplo de
mais uma mulher que
exerce domínio sobre
o próprio desejo



Pornografia X Transgressão

Em 2000 ela publicou um livro com imagens de suas relações sexuais com vários parceiros entre homens e mulheres: Diários Digitais (Digital Diaries) (fonte das duas imagens do artigo). Até aí nada demais, num mundo patriarcal onde o corpo e a sexualidade femininos são normalmente comercializados, enquanto o Ocidente hipócrita se escandaliza com o tratamento dispensado às mulheres por certas correntes do Islamismo. Entretanto, na opinião de Brian MacNair, a publicação do trabalho da fotógrafa norte-americana Natasha Merritt inaugurou uma nova fase no auto-voyeurismo artístico. Seria o caso de mais um trabalho que turva a fronteira entre a pornografia e a arte. Houve muitos elogios e também muitas críticas. Enquanto alguns notaram uma “maravilhosa indecência”, outros viram mais uma colaboração com o olhar masculino predatório. Talvez Lisa Tickner tenha conseguido perceber um dos nós da questão ao sugerir que quanto mais atraente é a mulher (era o caso de Merritt), maior é o risco, uma vez que as imagens poderão mais facilmente se aproximar do estereótipo (1).




“As minhas
necessidades artísticas
e sexuais são uma e a
mesma coisa”

 

Natacha Merritt (2)




Para Rebecca Schneider, pelo contrário, além de não recusar a sexualidade feminina, trabalhos como os de Annie Sprinkle e Merritt procuram utilizar as armas do patriarcado contra ele mesmo ao forçar um segundo olhar no próprio terreno sexual. “Para colocar de outra forma, se o nu feminino foi tradicionalmente a expressão simbólica do confinamento da mulher no patriarcado, seu desenvolvimento pelas mulheres artistas (incluindo a produção de imagens de sua própria nudez) pode subverter esse simbolismo e encorajar a reavaliação e redefinição da identidade sexual feminina em termos consistentes com o projeto feminista mais abrangente” (3). De acordo com McNair, ainda que as imagens de Diários Digitais possam ser utilizadas (por homens e mulheres) para masturbação (realizando pelo menos uma das características da pornografia), e também mais relevante do que seu eventual status artístico, é o fato de se constituírem como produto da decisão do olhar de uma mulher e de suas próprias escolhas. Segundo Frank Frangenberg, afirma que os diários de Merritt nos fazem perceber a diferença entre a satisfação física imediata e o desejo nunca satisfeito de contato com outros seres humanos. Frangenberg cita especialmente uma imagem em que Merritt está a olhar para seu parceiro sexual com uma estranha mistura de ceticismo e curiosidade. A mulher ansiosa por aprender, mas também certa de que o sexo não pode ser confundido com satisfação ou como promessa de um clímax emocional, apenas como uma ferramenta para nos salvar da solidão: o sexo como a forma mais básica de comunicação (4).


Leia também:

As Mulheres de Luis Buñuel
Luis Buñuel, Incurável Indiscreto
Arte do Corpo: Veruschka, Cindy Sherman, Carolee Schneemann, Shigeko Kubota, Yoko Ono,
 Jan Saudek, HR Giger, Leigh Bowery, A Dança das Trevas, As Cabeças de Gerhard Lang
A Ideologia, a Mulher e o Cinema na Itália
O Marcello de Mastroianni
Tatischeff e a Vida em Linha Reta
Fassbinder em Petra von Kant

Notas:

1. McNAIR, Brian. Striptease Culture. Sex, Media and the Democratisation of Desire. London/New York: Routledge, 2002. Pp.202-3.
2. FRANGENBERG, Frank. Natacha Merritt. In: GROSENICK, Uta (ed.). Mulheres Artistas, nos Séculos XX e XXI. Köln: Taschen, 2002. P. 351.
3. McNAIR, B. Op. Cit., p. 203.
4. FRANGENBERG, F. Op. Cit., pp.348. 


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