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Roberto Acioli de Oliveira

Arquivos

3 de fev. de 2008

Comentário Sobre o Comportamento Sexual Feminino


Um corpo
perfeito
não basta




Segundo o psicanalista Jurandir Freire Costa, estamos vivendo um estado de prontidão afetiva (1). Dada a estética de culto ao corpo, as pessoas evitam cada vez mais expor seu lado afetivo, apostando na busca da felicidade apenas no âmbito das sensações. O problema, completa Jurandir, é que as pessoas não conseguem satisfação porque acabam percebendo que um corpo perfeito não basta.

Segundo o psicanalista, nos últimos trinta anos estamos vivendo uma transição da cultura dos sentimentos (que imperou por quase três séculos) para a cultura das sensações. Nesta última perspectiva, todas as fichas são apostadas no culto ao corpo belo, não obeso e jovem. Jurandir teme que os custos emocionais do ideal inatingível de beleza que nutre essa cultura das sensações sejam caros demais.

“No tempo do amor romântico, as pessoas sacrificavam a própria vida por amor. Hoje você não sacrifica a sua liberdade sexual, a sua beleza, a academia de ginástica por amor algum” (2). (...) “As pessoas querem estar em boa forma, ser jovens, magras e viver felizes. Mas o que é ser feliz? A felicidade é basicamente sentimental porque o romantismo amoroso é o que dá sentido à vida privada”. (3)

“A mulher de verdade não é perfeita”. Entretanto, na cultura das sensações, não adianta você ser uma mulher fiel e sensível se você é gorda! As pessoas querem amar, mas não conseguem, são eternamente infelizes com sua imagem corporal. Desta forma, a partir do que Jurandir chamou de distúrbios de imagem corporal, tornam-se infelizes porque não encontram quem amar, não conseguindo exercer o afeto. Não é que elas não saibam amar, ou sejam pobres afetivamente. O problema é que ou elas estão fora do padrão de beleza da cultura da sensação ou acreditam que estão. Resultado: epidemia de depressões leves tratadas com Prozac.

“A professora de ginástica Izabel Ramalho, da academia Pró-Forma, no Leblon [RJ], diz que a preocupação exagerada das mulheres com o corpo contrasta até com o ideal feminino propagado pelos homens”:

- Os meus alunos vivem dizendo que o importante é o conjunto. Não importa uma celulite aqui, uma barriguinha ali, mas sim um conjunto atraente. Isso é o que interessa. E as mulheres não aprendem.

Para a atleta Dora Bria, só a maturidade dá à mulher a consciência de que ela vale muito mais que uma bela aparência:

- Eu aprendi que homem só gosta de mulher perfeita para um dia. Depois, assusta-se e foge. Logo, é mais vantagem ser uma mulher normal”.(4)

É claro que não podemos tomar como regra algumas opiniões de homens freqüentadores de academias de ginástica do Leblon. Mas um bom observador poderá, aqui e ali, perceber que de fato a unanimidade em torno desse culto ao corpo não é tão unânime assim. A opinião de Dora Bria também parece apontar para o fato de que uma mulher perfeita (fisicamente) torna-se muito cara ao longo do tempo, além de ter pouca disponibilidade – uma vez que a ginástica e os cremes são mais importantes que os parceiros/parceiras que possibilitaram conquistar. Muito cara porque a indústria da beleza cobra caro. Do ponto de vista da mídia televisiva, avaliar em que momento alguém está sendo sincero quando renega essa cultura da sensação pode ser meio difícil, já que todos ali vivem da exposição pública. A não ser que seu discurso seja bem claro e direto. Eu arriscaria um exemplo deste caso. Ironicamente, um discurso explícito contra o culto ao corpo e à hipersexualização surge num programa cujo tema é exatamente o sexo explícito.

O programa Noite Afora, que era veiculado pela Rede TV há alguns anos atrás, tinha como temática a vida erótica e sexual. Apresentava strip tease e reportagens sobre vida sexual. O curioso é que a apresentadora e ex-modelo Monique Evans falava quando podia que não gostava do “durante”, só do “antes” e do “depois”. Outro detalhe interessante é que, ao entrevistar bandas como a que lançou uma música que chamava as mulheres de cachorras, suas dançarinas disseram que não gostariam de ser chamadas assim. Outra moda era a da música que falava que “um tapinha não dói”. Monique fez a mesma pergunta, se as dançarinas gostavam disso. Responderam que não. Estes exemplos mostram que mesmo num programa que pretende falar sobre sexo apenas em seu viés erótico, aquelas pessoas de quem se espera que assumam um comportamento hipersexualizado não o fazem. Na verdade, muitas se mostram bastante convencionais e conservadoras sexualmente.

Por outro lado, do ponto de vista dos clichês da mídia, não deixa de chamar atenção o fato de que tal comportamento demonstra o desinteresse em identificar o conteúdo sexual com os interpretes. Quer dizer, o que se esperaria da apresentadora é que ela fizesse (ou fingisse fazer) do sexo pelo sexo um estilo de vida. O mesmo para as dançarinas desses grupos musicais onde as letras são machistas e hipersexualizadas.


Leia também:

As Mulheres de Luis Buñuel
Luis Buñuel, Incurável Indiscreto
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Imagem Corporal e Satisfação
O Rosto e a Ética na Televisão
O Gande Irmão Está Vendo Você
A Cegueira da Visão (I), (II), (final)

Notas:

1. CEZIMBRA, Marcia. PRONTIDÃO AFETIVA. Psicanalistas dizem que a busca obsessiva por boa forma, sensualidade, beleza e juventude não traz felicidade. O GLOBO, Jornal da Família. 6/04/2003. Pp. 1-2.
2. Idem, p. 1.
3. Ibidem, p. 2. O grifo é meu - Nota do Autor.
4. Ibidem. 


2 de fev. de 2008

O Mercado de Consumo e o Corpo no Discurso da Mídia



“Uma
escola que
não ensina como
assistir a t
elevisão
é uma escola
que não
educa”

Joan Ferrés



Obesidade e Propaganda


A obesidade já é um problema planetário. Mas não é uma questão de gente gulosa, trata-se do efeito colateral óbvio e previsível do hábito de ingerir gordura saturada. Em particular, a obesidade infantil já adquiriu um caráter epidêmico. Biscoitos, refrigerantes, cheeseburgers dos mais variados tipos, salgadinhos, atualmente esta é a dieta básica das crianças. Na verdade, há muitas décadas é a dieta inclusive nas escolas. Muitas delas estão tentando modificar o cardápio de suas lanchonetes, retiram as balas e doces, os salgadinhos, e oferecem sucos. O problema é que os próprios pais reclamam que seus filhos não encontram o que comer na escola e eles estão pagando pelo serviço. Mesmo que a escola mantenha a posição, as crianças acabam comprando do lado de fora da escola.

E onde a mídia entra nisso? Como não podia deixar de ser, na propaganda. Todos os produtos são coloridos, interessantes. Nos anúncios de TV todos parecem muito felizes com aqueles chicletes e batatas fritas! Nas prateleiras dos supermercados é a mesma coisa. Tudo é feito para encher os olhos (e esvaziar os bolsos). O valor nutricional dos produtos, que deveria ser o dado primário, nem entra mais na conta, o que interessa é se é gostoso! Aliás, se não for gostoso, nem adianta ser colorido. Só que o “gostoso” não tem relação nenhuma com nutritivo, mas com produtos artificiais que ninguém sabe exatamente do que são feitos. Resultado, nós engordamos mas não nos alimentamos.

Em Super Size Me – A Dieta do Palhaço (Kathbur Pictures, 2004), com o devido acompanhamento médico para registro da experiência, Morgan Spurlock se propôs a comer por trinta dias apenas itens do cardápio do McDonalds. Quase morreu. Eu poderia dizer que o “palhaço” do título é Ronald MacDonald, o garoto propaganda da rede de lanchonetes. Mas talvez nós é que sejamos os palhaços, pois damos lucro comprando essa “comida” e depois damos mais lucro comprando remédios – para nos curar dessa mesma “comida”. Assim, alimentamos duas grandes indústrias ocidentais, redes de fast food e indústria farmacêutica. Alguns números da mania de fast food nos EUA: 37% das crianças e adolescentes estão gordos demais, e dois em cada três adultos está acima do peso ou obeso. O filme mostra o mundo dos programas de merenda escolar, diminuição das turmas de educação física, vícios alimentares e as medidas extremas do pessoal que resolve parar e tentar reencontrar a saúde perdida.

Uma das cenas mais apavorantes está nos extras do dvd(cenas deletadas: ‘batata resistente’). Uma experiência mostra quanto tempo cheeseburgers e batatas fritas levam para apodrecer. Após dez semanas, o cheiro no escritório ficou insuportável. Alguém jogou fora as batatas fritas também. A questão é que elas, ao contrário dos sanduíches, estavam perfeitas, como se tivessem sido compradas naquele instante. Ele sugere que cada um de nós faça a experiência, porque não sabe dizer quanto tempo elas durariam. Afinal, de que elas são feitas? E o que elas fazem com nossos corpos?

Preste atenção na maneira como são veiculadas as propagandas de alimentos. Todos, sem excessão, aparecem super macios, coloridos e brilhantes.... Qual o motivo disso? Porque não se mostrar as coisas como elas realmente são? A verdade não vende? O filme Crazy People – Muito Loucos (Paramount Pictures, 1990), com o subtítulo “A Propaganda Falando a Verdade”, tratava de um publicitário que foi internado num hospício porque um de seus projetos desagradou ao patrão – mas os cartazes da campanha que havia proposto foram impressos por engano e a estratégia foi um sucesso. Entretanto, ele resolve ficar no manicômio e acaba criando uma agência de publicidade com os outros internos, sendo ainda mais bem sucedido. Qual era a proposta da campanha? Dizer a verdade. A idéia era dizer o que realmente estava sendo vendido... Inicialmente, o patrão do publicitário achou ridículo e coisa de maluco. Mas, com o sucesso da campanha, não só mudou de posição como tentou roubar a idéia.

A existência de um filme como este mostra que a mídia não está o tempo todo contra nós ou tentando nos manipular. Como exemplo de outra boa influência em relação à saúde dos indivíduos, posso citar o um programa da série Globo Repórter (13/07/2002) sobre alimentação, onde pudemos observar como os americanos estão engordando. É recorrente neste programa o tema da edução alimentar. Vimos como os americanos estão sendo sistematicamente induzidos à obesidade por uma indústria de alimentos Light e Diet que, além de não emagrecer, são muito mais nocivos ao ser humano. Por outro lado, no programa Fantástico, também da Rede Globo, já assistimos a uma campanha contra o cigarro levada à cabo pelo dr. Dráuzio Varela – o que poderia ser visto como uma outra boa influência da mídia em relação à saúde dos indivíduos.

O que podemos ver aí? A indústria de alimentos vende mais (porque as pessoas são induzidas a comer mais, já que tais alimentos não suprem as necessidades básicas do organismo), a indústria de remédios vende mais e mais (para curar o estrago feito pela indústria de alimentos) já que boa parte dos remédios ou é placebo, ou causa dependência química. Não disponho de dados sobre o Brasil, mas diria que vai pelo mesmo caminho. Pelo menos quem mora nas cidades e é jovem, esses vivem na gordura saturada. Não falo como nutricionista, mas diria que os fast food são um péssimo hábito. Por pelo menos dois motivos.

Segundo informações que obtive de fontes ligadas à vigilância sanitária hamburgers e cheeseburgers devem ser consumidos imediatamente, mas as entregas de sanduíches (delivery) estendem esse prazo – a não ser que você confie capacidade de conservação dos recipientes das motocicletas que nos trazem os pedidos. Isto significa que, passados alguns minutos, “aquilo” já pode causar problemas – quem nunca teve um desarranjo sem explicação após de haver comido [mesmo que dias depois] essas coisas ? Eu tive, e agora acho que sei porque.

As propagandas de pizza e/ou “sanduíches americanos”. Se a mídia influencia as atitudes em relação a estes produtos ? É só começar a comparar o big mac do cartaz com aquele que você recebe e/ou vê na TV... Este é o exemplo mais corriqueiro de simulação por parte da mídia. A televisão faz a realidade parecer o que ela não é: acessível e organizada! Os produtos são invariavelmente lindos, suculentos, sempre acondicionados corretamente. As pizzas que aparecem na TV tem uma mágica propriedade que transforma toda aquela gordura que ela normalmente fica babando em algo como um néctar nutritivo. Os anúncios do MacDonalds mostram sanduíches em closes onde os ingredientes parecem tudo menos os produtos industrializados que realmente são. A chamada maquiagem dos produtos se transformou numa espécie de regra dominante.

O Corpo e a Mídia

O que buscamos afinal quando recorremos à mídia procurando respostas para nossas dúvidas existenciais em relação ao tipo de corpo que desejamos? Certezas? Não é errado buscar respostas. O problema é quando não percebemos as reais intenções daqueles a quem recorremos. O compromisso da mídia com o mercado é muito maior do que conosco. As propagandas querem vender produtos. Não importa se temos um anúncio de cheeseburger, depois um de pílulas emagrecedoras, e então um de sutiãs, passagens aéreas, macarrão, propanganda do governo (que será paga com nosso dinheiro), maquiagem, bebidas alcoólicas... Também pouco importa para eles se tudo isso vem no intervalo de programação infantil.

Eles vão nos dizer o que quisermos ouvir, até que não saibamos mais o que queremos. Queremos corpos esbeltos? Queremos comer comidas gordurosas? Queremos fumar cigarros e ao mesmo tempo subir montanhas? Afinal, o que queremos fazer de nossos corpos? Compramos alimentos que engordam mas não alimentam, compramos roupas que fazem nossas filhas parecerem vadias só porque elas tem que seguir a moda... Estamos cada vez mais fascinados pela embalagem, enquanto deixamos de lado o produto. Ou melhor, consumimos o produto que compramos não pelo que ele é, mas por sua imagem na propaganda ou na embalagem. E isto parece valer cada vez mais para as pessoas também, nossa “embalagem” vale mais do que aquilo que somos por dentro.

Recuperar a realidade de nossos corpos, suas possibilidades e limitações. Somos tão escravizados pelas expectativas daquilo que a mídia diz que podemos fazer com nossos corpos que não vivenciamos mais sua realidade, preferindo a virtualidade de uma imagem daquilo que poderíamos nos tornar – neste caso, apenas se comprarmos esse ou aquele produto ou, frequentemente, todos os produtos. No final, nos transformamos em caricaturas de um ser fisicamente perfeito que nunca existiu. Não pretendo sugerir que tudo na mídia é nocivo. Apenas acredito que falta discernimento para distinguirmos entre o real e a ficção. A imagem de nós mesmos que nos é transmitida pelos meios de comunicação de massa é uma idealização ou, quando muito, uma tentativa de mercantilizar nosso mundo simbólico.

O Que Fazer Sem Ter Que Desligar a TV?

No Brasil
existe uma moeda
(aquela de 1 centavo) cuja
única função seria permitir ao comércio roubar no troco. O que poderíamos esperar de um país como este? Como a culpa é toda nossa (porque este país somos
nós)
, a pergunta deveria ser:
o que podemos esperar
de nós mesmos
agora?


As iniciativas vêm se multiplicando pelo país, uma lista incompleta poderia conter as seguintes opções: Na internet, temos dois exemplos. O projeto Desligue a TV é uma iniciativa que visa, antes de mais nada, principalmente repensar este hábito automático e inconsciente de ligar a televisão como se a ela devêssemos uma obrigação de nos fazer companhia. Ou seja, a questão não é simplesmente desligar, mas discutir sua utilização. Quantas vezes ligamos a televisão e abrimos uma revista, ou vamos para outro cômodo, ou assistimos programações as mais irrelevantes por pura falta de criatividade em relação à nossa vida? Quem Financia a Baixaria é Contra a Cidadania é uma iniciativa da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e organizações da sociedade civil para promoção dos direitos humanos e da dignidade do cidadão na mídia. Promove um acompanhamento permanente da programação da televisão, indicando os programas que desrespeitam os tratados assinados pelo Brasil, princípios constitucionais e legislação em vigor que protegem os direitos humanos e a cidadania. Na TV a cabo, programas como o VER TV, que vai ao ar na TV Câmara, é outra iniciativa muito salutar e bem vinda de um fórum de discussão sobre os usos e costumes (e as manipulações políticas e comerciais) em torno deste eletrodoméstico – recentemente passou a ser transmitido em TV aberta, pela TVBrasil, antiga TVE do Rio de Janeiro. Na TV aberta, o Observatório da Imprensa, que vai ao ar na TVBrasil, nos dá um amplo painel das questões éticas que atravessam a mídia - e o jornalismo em particular.

Desligar este eletrodoméstico poderia não ser uma solução definitiva, pois a concessão pública para a autorização de funcionamento de canais de TV exige (e isto é parte do próprio texto da constituição da República) que a programação das redes comerciais encampe também temas de interesse público – portanto não é só vender, vender e vender! Desligar não é a solução porque temos direito de assistir a uma programação educativa de qualidade, pois o espectro eletromagnético (o ar por onde nos chegam os sinais de TV) é de propriedade da sociedade, apenas as redes de TV são particulares. Resta à sociedade brasileira tomar posse de si mesma!

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Imagem Corporal e Satisfação

1 de fev. de 2008

Suicídio é Pecado Mesmo?

A partir do século VI d.C. a Igreja Católica passou a considerar o suicídio um pecado. Por que não foi assim desde o princípio? O que levou a esta decisão? A crença na vida após a morte? Na verdade, a crença na vida após a morte é que levava aos suicídios. Para além da vida depois da vida, a Igreja teria tido outros motivos mais terrenos. Suicidas, os primeiros cristãos, trucidados das mais variadas formas, ofereciam-se de bom grado para morrer nas arenas romanas em nome de sua fé. Nessa vida após a morte podemos ir para o paraíso ou para o inferno; dar a vida por sua fé garantiria o paraíso, além de encurtar o tempo de espera. Seja como for, a então nascente Igreja Cristã perdia muitos adeptos. Foi então que ela proibiu ao crente dirigir-se ao atalho do suicídio, testando sua fé durante uma vida toda de martírios e dúvidas. Portanto, a Igreja decretou que o suicida vai para o inferno. Ficando vivos, poderíamos nos testar de outras formas. Mas que formas são essas?
 
***
 
O Novo Testamento, através do qual os cristãos irão diferenciar-se do mundo judaico, não aborda este assunto (1). Quando Cristo diz a João, “minha vida ninguém tira de mim, sou EU que a dou por mim mesmo” e “Dou a minha vida pelas minhas ovelhas” (Evangelho de São João, 10, 15-18), não estaria fazendo uma clara opção pela morte voluntária? Tais afirmativas saídas supostamente da própria boca de Cristo criaram problemas para os teólogos medievais.
 
No contexto de um homem-Deus e da redenção, o suicídio de Jesus ultrapassaria o suicídio “vulgar”. Mas como deve agir o seguidor, o cristão? Ele, que deve imitar seu mestre, é convidado a fazer o sacrifício: “Quem quiser a sua vida, perdê-la-á, mas quem perder a sua vida por Minha causa, encontrá-la-á“ (Evangelho de São Mateus, 16, 25); “Se alguém vem ter Comigo e não me prefere ao seu pai, mãe, esposa, filhos, irmãos, irmãs, e até à própria vida, não pode ser Meu discípulo” (Evangelho de São Lucas, 14, 26); “Quem ama a sua vida perdê-la-á e quem neste mundo a rejeita conservá-la-á para a vida eterna” (Evangelho de São João, 12, 25); “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos” (Evangelho de São João, 15, 13). Em muitas passagens do Novo Testamento Paulo, Tiago, Pedro, Lucas e João abominam (e convidam a abominar) a vida terrena. Ela é desprezível, um exílio que deveria ser o mais breve possível. “Mas, a meus olhos a vida não tem qualquer valor” (Atos dos Apóstolos, 20, 24), assim João ecoa vários textos do Antigo Testamento. (2) 
 
“As primeiras gerações cristãs entendem isso muito bem durante o período das perseguições e entregam-se voluntariamente ao martírio. ‘Eles desprezaram as suas vidas até ao ponto de aceitarem a sua morte’ [Apocalipse, 12, 11], dizia São João nos finais do século I e coloca no céu ‘aqueles que foram decapitados por terem dado testemunho de Jesus e terem acreditado na Palavra de Deus’ [idem, 20, 4]. No século II, São Justino, na sua Apologia, exalta os cristãos a correrem para a morte e no começo do século II Tertuliano e os montanistas (3) abundam em exemplos de cristãos que se entregam por si mesmos ou que, como resposta às autoridades, escolhem deliberadamente a morte”. (4)
 
Nos primórdios da Igreja Cristã, esta tendência se coloca claramente. Mas existe uma diferenciação entre a morte do desespero e a do mártir. O desesperado é um pecador, porque ele permitiu que o diabo o convencesse a condenar a si mesmo e também duvidar da misericórdia divina (5). Muita habilidade teológica fora empregada para proclamar a interdição do suicídio, o caso do suicídio de Judas talvez se enquadre nesse contexto como uma pedagogia que o crente deverá assimilar. O ato fundador do cristianismo é um suicídio, e seus discípulos exaltavam o sacrifício voluntário(6). Durante os três primeiros séculos, a Igreja se interroga sobre o exemplo de Cristo. Falsa visão do martírio? Para se opor ao donatismo, que exaltava o ato, no ano de 348 o bispo de Alexandria decide que não haverá mais orações em favor dos suicidas. De forma geral, a cúpula da Igreja adota posições conflitantes a respeito do caso nesses primeiros tempos. Foi então que Santo Agostinho bateu o martelo. Em A Cidade de Deus (I, 47), ele anuncia a doutrina rigorista que definirá a doutrina da Igreja:
 
“Nós dizemos, declaramos e confirmamos de qualquer forma que ninguém tem o direito de espontaneamente se entregar à morte sob pretexto de escapar aos tormentos passageiros, sob pena de mergulhar nos tormentos eternos; ninguém tem o direito de se matar pelo pecado de outrem, isso seria cometer um pecado mais grave, porque a falta de um outro não seria aliviada; ninguém tem o direito de se matar por faltas passadas, porque são sobretudo os que pecaram que mais necessidade têm da vida para nela fazerem a sua penitência e curar-se; ninguém tem o direito de se matar na esperança de uma vida melhor imaginada depois da morte, porque os que se mostram culpados da sua própria morte não terão acesso a essa vida melhor”. (7) 
 
O suicida passa então a ser considerado um covarde (porque não suporta provações), um vaidoso (porque se importa em demasia com o que pensam dele), um pecador. Essa interdição é ao mesmo tempo fruto da influência platônica contra o donatismo (8). Segundo os platônicos, o suicídio é um atentado contra os direitos de Deus. Santo Agostinho aprofunda esse princípio à luz do “Tu não matarás”: a vida é um dom de Deus e somente ele poderá tirá-la. A posição dos donatistas é praticamente criminalizada. Mas, então, como fica a vida após a morte dos mártires da Igreja? Santo Agostinho sugeriu que alguns casos devem ter recebido um apelo particular de Deus. Entretanto, no caso de Jesus, sua morte foi mesmo voluntária. De fato, o quinto mandamento (tu não matarás) nunca foi absoluto: é permitido matar um condenado ou um inimigo de guerra; o suicida é um criminoso, mas a morte de milhões nos campos de batalha é um ato meritório.
 
Lá pelo final do século IV e começo do V d.C., o Império Romano está com problemas. Em crise econômica e demográfica, os direitos civil e canônico se unem para tentar resolver a questão. O sistema, totalitário, retira os direitos da pessoa sobre si mesma. O colono depende do senhor de terra. A falta de mão-de-obra e de soldados exige cada vida humana disponível. A legislação civil, normalmente indulgente em relação ao suicídio, endurece. São confiscados todos os bens dos suicidas, sendo o suicídio já relacionado a uma confissão de culpa (9). A Igreja, por seu lado, revaloriza o casamento, condena a abstinência sexual e todas as formas de contracepção. Uma lei do Império, datada de 374, proíbe o infanticídio, ao mesmo tempo em que luta contra o abandono de crianças. A partir de Constantino, os poderes civil e religioso colaboram entre si no combate ao suicídio e ao martírio em função mais de uma convergência de interesses do que por fé na vida.
 
Ao que tudo indica, o suicídio passa a ser considerado um crime contra Deus (mas também contra a natureza e a sociedade) por motivos bem mais mundanos: quando a pressão da situação econômico-política impõe-se à própria moral. A Igreja vinha aumentando consideravelmente sua posse de terras, portanto ela não desejava a emancipação dos colonos ou dos escravos – o que incluía a própria vida. Em 452, o Concílio de Arles proíbe que escravos e criados se suicidem. A idéia é que quando um criado se mata ele rouba seu senhor, já que este é dono dele – tal ato por parte de um escravo era considerado “revelador de um furor diabólico”. O martírio voluntário, única forma de suicídio vista de forma respeitável, cai em desuso com a conversão do Império Romano ao catolicismo. Se ainda havia hipóteses de permissão para o suicídio, a condenação do ato se torna definitiva a partir dos Concílios de Braga e de Auxerre, em 563 e 578. A partir daí, o suicídio é mais castigado do que um crime qualquer. 
 
Como? O criminoso paga uma multa, enquanto o suicida terá seus bens confiscados.
 
Lá pelos séculos VIII e IX, só aos doidos era desculpado o suicídio. Mesmo assim, sob uma condição, apenas se houvesse levado uma vida respeitável antes de ser dominado pelo diabo. O suicídio por desespero é o mais condenado, essa modalidade é repudiada pela Igreja por questionar completamente a ela e a Deus. Essa é a época em que a Igreja introduz a prática da confissão individual dos pecados, o que permite o controle absoluto da vida dos crentes. Proíbem-se as orações pelo suicida, assim como uma sepultura cristã. Seja por medo de uma condenação judicial ou mesmo por uma causa desconhecida, o suicídio está interditado. A partir do século X começa uma verdadeira caça aos suicidas, principalmente com o início das invasões muçulmanas na Europa. 
 
A partir do Baixo Império, os interesses de Deus estão cada vez mais parecidos com os dos senhores de terras e nobres, suicidar-se é insultar tanto a um quanto a outro. Na Idade Média, entre os séculos XI e XIV, os teólogos consolidam a proibição do suicídio. Se um dos Salmos diz, “o corpo é uma prisão”, isso não quer dizer que temos o direito de sair dela: 
 
“As autoridades civis e religiosas iniciam o mesmo combate contra o suicídio e completam-se as próprias medidas dissuasivas: confiscação dos bens e condenação eterna. Nos dois domínios, a proibição do suicídio acompanha o recuo da liberdade humana; o homem perde o direito de dispor da sua própria pessoa. Em proveito da Igreja, que dirige toda a sua existência e retira a sua força do número de fiéis, em proveito dos senhores e de alguns eclesiásticos, que necessitam conservar e aumentar a mão-de-obra num mundo subpovoado em que fomes e epidemias acabam regularmente por comprometer a valorização dos seus domínios”. (10)
 
Os poetas também dão sua contribuição, para desespero dos desesperados. Na Divina Comédia, Dante coloca os suicidas no inferno. Eles perdem a forma humana e se transformam em árvores de uma floresta sombria com folhas sem cor, fustigadas pelo vento e congelados. É curioso notar neste caso que, na Idade Média, a natureza na Europa ainda era exuberante. Portanto, em função de animais como lobos e ursos, o verde constituía um problema para as populações. Mato, naquela época, era sinônimo de lugar fora do mundo. Pelo menos, fora do mundo dos homens. Daí essa ideia de degredo para quem, não podendo morar na cidade, é relegado à floresta. 
 
Lá pela Idade Média temos também a introdução de outros elementos chave a partir do século XI: a confissão, a sentença e o perdão. A confissão é considerada remédio para o desespero (que é considerado um pecado e não um estado psíquico), somos então perdoados e levamos uma penitência para casa. Se depois disso insistimos no suicídio, aos olhos da Igreja somos loucos. Se o suicida se mostra sadio antes do ato, a punição é extrema, a não ser que ele se arrependa (ao padre) na hora da morte. Somente em 1284 temos os primeiros casos confirmados oficialmente de recusa de enterro cristão para suicidas – muitos foram recusados antes. Curiosa essa insistência na onipotência da Igreja, se ela nos perdoa ou nos condena é porque Deus o fez antes.
 
Além de ser negada uma sepultura ao morto, pelos vivos de Lille na França do século XIII, o cadáver será amarrado pelos pés e arrastado como um criminoso – e naturalmente seus bens serão confiscados, procedimento que se oficializa na França em 1205. Em Anjou e no Maine, vão arrastá-lo por aí e depois as pedras do caminho serão arrancadas. Se for mulher, será queimada. Tudo isso e mais algumas outras práticas patéticas e patológicas ligavam-se às crenças antigas de que o suicida poderia voltar e importunar os vivos. O que para as crenças anteriores ao cristianismo eram espíritos maus, para a Igreja passa a ser o demônio. Essa bizarra prática de “execução do cadáver” (11), ao mesmo tempo em que exorciza o corpo morto, tem um efeito dissuasivo, convencendo os outros a não fazer o mesmo. A família do suicida deve assistir publicamente todos os procedimentos em torno do cadáver.
 
Na Idade Média europeia não existia aquilo que apenas a partir do século XVIII surge com o nome de “suicídio filosófico” (12). Desgosto da vida, ou considerar que a vida não vale a pena, essas seriam atitudes atribuídas à loucura – o que era uma vantagem para as famílias, que não veriam confiscados os bens do morto. No início, essa loucura se chamava “melancolia”. Este termo também tem data de nascimento, um dos primeiros a empregá-lo o fez lá por 1265. A melancolia se manifesta pelo abatimento e pela tristeza, mas temos também o estado de frenesi ou fúria. Nesses casos, como o nome evidencia, temos atitudes violentas, às vezes fruto de delírios e alucinações. Certamente podemos concluir que, naquela época como ainda hoje, qualquer comportamento que evidencie alguma forma de depressão ou de indignação, pode ser rotulado de loucura – o que me parece muito conveniente, tanto para resolver de forma insatisfatória os problemas familiares, quanto para controlar os corações e mentes de seus seguidores, sejam cidadãos ou adeptos de uma religião qualquer.
 
No século XIV verifica-se na França a intenção de abrandar as punições em caso de suicídio. Ainda assim, mesmo que seja por desgosto da vida, o ato ainda é entendido como evidência de loucura – embora o conceito de loucura seja bastante amplo nessa época. Até entre os teólogos e moralistas a pressão diminui. Resgata-se a ideia do suicídio de Cristo e não se recusa uma sepultura ao corpo do suicida. A literatura enaltece os suicídios por amor e honra. No final das contas, apesar de o suicídio ser repudiado, a atitude medieval é mais branda do que manda a letra da Lei (13). 
 
***
 
Não se trata de apologia ao suicídio. A questão levantada aqui aponta noutra direção. Com a desculpa de defesa da vida, a Igreja (e um Estado não laicizado) nega autonomia aos indivíduos – que deveriam ser os donos do próprio destino. A Igreja Católica e suas vertentes protestantes, assim como qualquer outra confissão religiosa não têm o direito de neutralizar o livre arbítrio do ser humano. Sem essa capacidade básica das pessoas, as próprias religiões não contariam com adeptos, posto que (supostamente) foi o livre arbítrio de cada um (e não o medo) que os levou a comungar esta ou aquela fé. Por que não se discute a cobrança de dízimos? A fé de uma pessoa deveria ser julgada pelo crescimento espiritual e não pelo tamanho da contribuição financeira e/ou material – crescimento espiritual e dízimo não são sinônimos. A fé deveria preencher o coração e não o bolso. 
 
Leia também: 
 

Notas:

1. MINOIS, Georges. História do Suicídio. Tradução Serafim Ferreira. Lisboa: Teorema, s/d. P. 35. 
2. Idem, p. 36. 
3. Montanismo é um movimento cristão do segundo século fundado por Montano. Os montanistas declaravam-se possuídos pelo Espírito Santo e, por isso, profetizavam. Segundo estas profecias, uma outra era cristã se iniciava com a chegada da nova revelação concedida a eles. Esse movimento surgiu na Frígia (Ásia Menor Romana, hoje Turquia), pelos anos 170 d.C. Havia duas mulheres, Priscila e Maximila, que eram as porta-vozes proféticas de Montano e dizia que o Espírito Santo falava através delas. Fez muitas predições proféticas enganosas, pois jamais foram cumpridas, como a de que a aldeia de Pepuza, na Frígia, seria a Nova Jerusalém. Proibia certos alimentos, exigia jejuns prolongados e não permitia o casamento de viúvas, como também negava o perdão de pecados graves ao novo convertido, mesmo após o batismo (com confissão e arrependimento). Montano queria fundar uma nova ordem e reivindicar seu movimento como sendo um movimento especial na história da salvação. O principal motivo de Montano era lutar contra a paralisia e o intelectualismo estéril da maioria das igrejas organizadas na época. Infelizmente, ele também caiu em extremos enganosos. Esse movimento foi condenado várias vezes por vários sínodos de bispos, tanto na Ásia Menor como em outros lugares. A Igreja montanista se espalhou pela Ásia Menor, chegou a Roma e ao norte da África. Seu adepto mais famoso foi, sem dúvida, Tertuliano - o maior teólogo de então. (Fonte Wikipedia) 
4. MINOIS, Georges. Op. Cit. , p. 36. 
5. Idem, p. 46. 
6. Ibidem, p. 37. 
7. Ibidem, p. 39. 
8. O Donatismo foi uma doutrina religiosa cristã, considerada herética pelo catolicismo. Persistiu na África romanizada nos séculos IV e V. O seu nome advém de dois bispos com o mesmo nome: Donato de Casa Nigra, bispo da Numídia; e Donato, o Grande, bispo de Cartago. Os donatistas defendiam que os sacramentos só eram válidos se quem os ministrava era digno. Na religião católica, porém, crê-se que os sacramentos valem por si, seja o ministrante (geralmente um sacerdote) um indivíduo corrupto ou não. Os autores que mais influenciaram os donatistas, em termos de doutrina religiosa, foram São Cipriano, Montano e Tertuliano. O bispo de Hipona, Santo Agostinho, fez campanhas contra esta crença e foi principalmente graças aos seus esforços que a Igreja católica acabou por vencer a controvérsia. Com a ocupação vândala do norte de África, o donatismo voltou a ter, aí, alguma preponderância, o que continuou a acontecer depois da reconquista bizantina destes territórios por Justiniano. Desconhece-se quanto tempo persistiu depois da conquista muçulmana. (Fonte Wikipedia) 
9. MINOIS, Georges. Op. Cit. , p. 41. 
10. Idem, p. 44. 
11. Ibidem, p. 49. 
12. Ibidem, p. 52. 
13. Ibidem, p. 55. 
 

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