aquilo que não cessa
de se transformar”
Francis Bacon (1)
de se transformar”
Francis Bacon (1)
Francis Bacon (1909-1992) é o pintor de um tema único: o corpo humano em todos os seus estágios. Entretanto, foi apenas nos anos 60 do século passado que ele começou a pintar a si mesmo. Lá pelos 50 anos de idade Bacon começa a fazer auto-retratos, ao contrário de grande parte dos pintores, que sempre começavam pintando a si mesmos. Não que desejassem pintar a si mesmos, mas porque não tinham dinheiro para contratar modelos. E foi justamente por este motivo que Bacon, já na metade da vida, optou por se retratar.


Bacon pinta a carne
e livra o corpo da alma! Coloca
à nu o corpo do homem, fora dos
subterfúgios do espírito
Joëlle
Moulin


uma tela virgem, nem o
escritor escreve sobre uma
página em branco; a página
ou a tela já estão de tal
modo cobertas de clichês
preexistentes, preestabelecidos,
que é preciso antes de tudo
apagar, limpar, laminar, até
mesmo retalhar, para fazer
passar uma corrente de ar do
caos que nos dá a visão” (3)

De acordo com o filósofo Gilles Deleuze e o psicanalista Felix Guattari, Francis Bacon teria sido um dos maiores coloristas desde van Gogh e Gauguin. A carne "dos seus rostos" se constrói a partir de “tons quebrados” de muitas cores. Azuis, vermelhos ou ocre-violeta, que acompanham a contorção da carne, escavam, mutilam e expressam o sangue, enquanto os brancos e outros tons de azul sublinham as deformações. A anatomia explode, além da geometria subversiva do rosto, ela também será sacrificada no processo à golpes de pano desferidos pelo pintor sobre a tela. É assim que Bacon tem amputadas sua testa nos Três Estudos de Retrato (um auto-retrato), de 1969; a metade de sua boca no Auto-Retrato, também de 1969; uma bochecha no Auto-Retrato, de 1976, enquanto a outra está hipertrofiada no Auto-Retrato, de 1973, e no Estudo para um Auto-Retrato, de 1982. Encontramos também queixos fraturados, metades rasgadas de seu rosto, etc. Apesar de tudo isso, pelo menos um elemento do rosto sempre irá se repetir: o cabelo. Joëlle Moulin se questiona sobre o que Francis Bacon estaria desejando mostrar com esses rostos feridos e desfigurados até a monstruosidade. (imagem acima, Auto-Retrato, 1976; ao lado, Auto-Retrato, 1972; imagens abaixo, à esquerda, Três Estudos Para Auto-Retrato, 1979-80; à direita, Auto-Retrato, 1975)

"O que eu quero
fazer é deformar a
coisa e afastá-la da
aparência. Mas, nessa deformação, trazê-la de
volta a um registro
da aparência" (4)
Notas:
Leia também:
Retrato e Auto-Retrato
O Rosto no Cinema (VII), (VIII), (IX)
Picasso e as Cabeças das Mulheres
1. MOULIN, Joëlle. L’autoportrait au XXe Siècle. Paris: Adam Biro, 1999. P. 95.
2. Idem.
3. DELEUZE, Gilles ; GUATTARI, Felix. Qu’est-ce que la Philosophie?. Paris: Minuit, 1991. P. 192.
4. MOULIN, Joëlle. Op. Cit., p. 96.
Picasso e as Cabeças das Mulheres
1. MOULIN, Joëlle. L’autoportrait au XXe Siècle. Paris: Adam Biro, 1999. P. 95.
2. Idem.
3. DELEUZE, Gilles ; GUATTARI, Felix. Qu’est-ce que la Philosophie?. Paris: Minuit, 1991. P. 192.
4. MOULIN, Joëlle. Op. Cit., p. 96.