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Roberto Acioli de Oliveira

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11 de jan. de 2013

A Tragicomédia da Comédia







“O homem é o único
animal  que ri”

Aristóteles,
As Partes dos Animais 






Embora seja comumente aceito que tenha sido perdida a parte do livro do filosofo grego Aristóteles onde ele falou sobre a comédia, é surpreendente a quantidade de referências negativas ao cômico no restante da Poética. Também é curioso que mesmo com tão poucas referências conclusivas a comicidade tenha passado à posteridade ocidental como um estado infinitamente menos nobre do que o sentimento trágico. Este último é relacionado ao lado nobre do ser humano, enquanto o primeiro é visto como pouco mais do que uma deformidade, um defeito, ainda que inofensivo; algo que não engendra dor nem destruição. Da mesma forma, nos escritos de Aristóteles a caracterização da comicidade é desproporcionalmente menor do que o saber em torno da tragédia. A desvalorização do cômico é tal que paradoxalmente esse estado passa a ser valorizado na condição de enigma. Em O Nome da Rosa (1983), romance escrito por Umberto Eco, o tema é justamente a busca pelo livro II da Poética, onde segundo o próprio Aristóteles ele teria tratado da comédia. O monge Jorge, responsável pelas mortes em O Nome da Rosa (ele envenenou as páginas do livro II da Poética para que ninguém testemunhasse o que leu), pretendia impedir que os outros monges sucumbissem à “nocividade do riso”. Bem antes disso, outro filósofo grego e mestre de Aristóteles, Platão também condenou a comédia (ela estaria longe da verdade) no livro X de A República. O riso, Platão insistiu, aponta para o mundo das aparências, que o filósofo contrapunha ao mundo da razão. (1).

Na Idade Média já se reconhecia e aceitava o riso como próprio do humano, o que não significa que poderíamos rir livremente. Em geral, o riso foi condenado nos textos teológicos porque na Bíblia não há indício de que Jesus Cristo deu uma risada algum dia! O fundamento da negação cristã ao riso pode ser encontrado em germe na tradição judaica. Enquanto o Antigo Testamento forneceu ao cristianismo elementos de restrição ao riso de escárnio, no Novo Testamento o riso chega a ser colocado como obstáculo entre o fiel e Deus. Enquanto o sofrimento era enaltecido como purificador, o riso era associado à condição efêmera do prazer e da alegria terrenas. (2). Se antes o riso era o irracional, agora é pecado. Na modernidade deixa de importar a contradição entre o riso e a qualidade racional que seria intrínseca ao ser humano: o riso não é mais incompatível com o homem. A necessidade de explicar como se articulam, no humano, coisas tidas como contraditórias será substituída na modernidade pela possibilidade de sentido na ausência de sentido: “Os pensamentos modernos sobre o riso, aqueles que o ‘significam’, falam, pois, da necessidade de concordância entre o homem e o impensado, e não mais do riso como fenômeno que precisa de explicação” (3). O pensamento de Nietzsche se opõe ao tratamento dado ao riso na Antiguidade. Para o filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), a hipótese de que o riso possa destruir a Verdade deveria ser uma vantagem para nós.

Notas:

Leia também:


1. ALBERTI, Verena. O Riso e o Risível na História do Pensamento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor/Editora Fundação Getúlio Vargas, 1999. Pp. 44, 45, 46-7, 68, 200-6.
2. MACEDO, José Rivair. Riso, Cultura e Sociedade na Idade Média. Porto Alegre/São Paulo: Editora universidade/Editora UNESP, 2000. Pp. 54-5.
3. ALBERTI, Verena. Op. Cit., p. 206.

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