“O bom
em uma mulher
é que você não note
nenhuma parte dela,
só note que ela está presente”
Ivo Pitanguy
Cirurgião Plástico (1)
em uma mulher
é que você não note
nenhuma parte dela,
só note que ela está presente”
Ivo Pitanguy
Cirurgião Plástico (1)
O Que Pode Um Corpo?
Essa distância entre eu e minha imagem no espelho tende a substituir a distância entre eu e meu “eu profundo”. Pode-se dizer que a cegueira da visão está na importância desmedida que damos a esse “lado de fora do lado de fora”. Uma distorção em relação a nossa própria auto-imagem não é exclusividade de pessoas bulímicas e anoréxicas. Na “cultura das imagens”, tudo que “parece que é” torna-se mais importante do que aquilo que as coisas e pessoas são de fato.
Quem nunca ouviu a frase, “é tão bonito que parece uma pintura!” Esta colocação inocente dá conta da importância que tendemos a dar ao mundo da imagem (da cópia, do duplo). Damos tanta importância que chegamos a inverter os termos e, para elogiar alguém, algum animal, objeto ou paisagem, dizemos que parece uma pintura. Na verdade, o elogio maior seria dizer, “como o mundo real é belo!”. Mas não, elogiamos o mundo real dizendo que ele é tão bonito que parece uma cópia dele mesmo!
A visão parece perder a razão de existir. A cegueira da visão talvez seja a cruz que temos de carregar, numa sociedade onde o “eu profundo” e invisível perde cada vez mais espaço para um mundo superficial, que se constitui cada vez mais numa espécie de refúgio para os doentes que ele mesmo criou e reproduziu. Um mundo das aparências ou uma espécie de “esquizofrenia das aparências”, já que como apenas vamos comparar uma imagem com a outra, perdemos a dimensão material que está por trás dela. Talvez seja por essa razão que pessoas excessivamente ligadas em sua aparência tendem a não dar importância aos sinais que seu organismo manda (avisando que ele está chegando ao limite). Mas o que importa o corpo físico (o que importa a realidade?) quando a imagem desse corpo vale mais do que ele próprio?
Nota:
1. Jornal O Globo, 23/05/2004, p.2.