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Roberto Acioli de Oliveira

Arquivos

11 de out. de 2008

Pênis Guerreiro


A santidade do pênis era a idéia central do mito mais importante do Antigo Egito. O mito de Osíris e Ísis, os irmãos que governaram como rei e rainha do Egito. Seth, outro irmão, odiava Osíris e partiu o corpo do rei em 14 pedaços. Ísis achou todos, menos o pênis do rei. Numa das várias versões do mito, Ísis formou primeira múmia com esses pedaços. Transformou-se em falcão e pairou entre as pernas de Osíris. Batendo as asas produziu um novo pênis para o rei morto. Então ela se abaixa nesse órgão e recebe a semente de Osíris. O filho dessa união é Horus, de quem todos os faraós alegavam descender. Para vingar seu pai, Horus mata e castra Seth. Supondo que isso aconteceu, outra estória parecida se quer história. Foi na Judéia, onde um homem dizia ter nascido de Deus e de uma virgem, oferecendo a salvação àqueles que acreditassem que o filho de deus havia se levantado dos mortos. No Egito Antigo, um mito sagrado preconizava a salvação de uma cultura inteira através da morte e renascimento do pênis de um deus (1).

Portanto, no mundo do além do Antigo Egito, o pênis era capaz de derrotar a morte. Para os inimigos do Egito de então, a ligação entre derrota e impotência sexual teve conseqüências implacáveis. Uma inscrição nos muros de Karnak, pelo faraó Merneptah em cerca de 1200 a.C., falava sobre o triunfo em batalha: 6 pênis de generais líbios, 6.359 pênis decepados de líbios, 222 pênis decepados de sicilianos, 542 pênis de etruscos, 6.111 pênis de gregos oferecidos ao rei. Três mil anos depois, quando o presidente norte-americano Lyndon Johnson não tinha mais argumentos para os repórteres que questionavam por que o país ainda combatia no Vietnã, ele abriu a braguilha, puxou seu pênis para fora e disse: “Isto é o porquê!”(2). (à direita, a bala de um canhão alemão da Primeira Guerra Mundial)

Uma das hipóteses para a origem da circuncisão era como marca quase universal da escravidão ou da desonra dos prisioneiros militares. Aliás, a nudez masculina de um corpo imaculado era, em Atenas, mas importante do que a nudez feminina. Na Grécia Antiga, os homens se exercitavam nus no ginásio, uma palavra que deriva de gymnos, que significa “nu”. Para um ateniense, a nudez afirmava sua posição de cidadão-guerreiro. As pinturas dos vasos do período clássico retratam, com freqüência, um grego nu expondo seu pênis para uma mulher completamente vestida. O que chamamos de “exibicionismo” eles chamavam de “flerte” (3).


O pênis ereto também simbolizava o poder ateniense. A homenagem que os gregos pediram após derrotarem os persas em Eion, em 476 a.C., foi um monumento com três hermae – colunas de pedra ou madeira encimadas pela cabeça do deus Hermes e logo abaixo um pênis em ereção. Eles desejavam essas estátuas que só tinham cabeça e pênis em grupos de três na agora, a praça do mercado e centro da vida ateniense. Portanto, a civilização grega e a vitória que a preservou foram simbolizadas por três ereções de pedra. O trauma veio em 415 a.C, quando o exército partiria para invadir a Sicília, notou-se que haviam destruído as hermae da cidade. A cidade despertou e se viu castrada! Seja ou não por culpa desse presságio aterrador, a invasão fracassou e acelerou a derrota de Atenas por Esparta (4).

Na Grécia Clássica, a virilidade era aprendida e merecida, o primeiro processo instigado por um professor, o segundo ocorrendo na guerra. No caso dos Romanos, a virilidade era avaliada simplesmente pelo poder dinâmico do sexo. Em suas operações militares, eles costumavam escrever obscenidades ou provocações nos projéteis que arremessavam em seus inimigos. Glans, a palavra latina para projétil, também significa “cabeça do pênis”, como hoje em dia “glande”. No cerco de Perúgia, em 41 a.C., as munições tinham inscrições sobre o ânus do rei inimigo (5). Prática que se popularizou durante a Segunda Guerra Mundial. (ao lado e acima)

Na era moderna, pelo menos desde a Segunda Guerra Mundial, é bastante fácil encontramos imagens dos aviões de combate e bombardeiros norte-americanos e ingleses rodeados de bombas com inscrições. (imagem colorida acima, à direita, uma bomba enderaçada a Saddam Hussein, durante a invasão do Iraque pelas tropas norte-americanas em 2003, ao estilo de remetente postal; logo abaixo, à esquerda, ainda os norte-americanos, desta vez durante a Guerra do Vietnã, com a inscrição Fuck Communisn; acima, também de avião norte-americano e também no Vietnã, um recado para o líder comunista, esta foto estava datada de 15 de março de 1968)

Quem sabe, uma pesquisa etimológica da palavra “gladiador” revele glans como uma raiz comum. Enquanto isso não acontece, é o gladiador que evidencia a crueldade que impregnava o erotismo romano. A vida do gladiador era penetrar ou ser penetrado por suas armas pontudas e mortais. Os generais romanos, às vezes, promoviam soldados com base no tamanho do pênis (6). E os homens com priapismo eram considerados donos de uma força excepcional. (ao lado, as duas maiores bombas do mundo durante a Segunda Guerra Mundial. Com até 10 toneladas, eram de fabricação inglesa, para serem lançadas de avião)


Durante a Primeira Guerra Mundial, o recrutamento levava em consideração uma relação entre masculinidade física e combatividade. Curiosamente, o cabelo púbico fazia uma grande diferença. Especialmente o contorno da margem superior – eram rejeitados aqueles que, entre outras faltas físicas, apresentavam distribuição lateral de cabelo púbico. Segundo as diretivas dos manuais de alistamento, afirmava-se seriam soldados ruins aqueles homens que possuíssem o tamanho da pélvis, a distribuição do cabelo e a disposição da gordura próximos ao tipo feminino, ou ainda, aqueles que tivessem "características sexuais fracas”. (ao lado, bomba sendo preparada durante a invasão do Iraque, com a inscrição Bow)


Naturalmente, de todos os pedaços do corpo do inimigo que poderiam ser cortados e levados como souvenirs pelos soldados norte-americanos durante a guerra do Vietnã, o pênis estava entre as escolhas. Os próprios oficiais esperavam que o soldado fizesse isso, ou alguma coisa estaria errada com os soldados (7). Afinal, isso não é difícil de concluir, já que o pênis parece ser tão importante para afirmar sua força. Pode parece uma conclusão bizarra ou esdrúxula, mas, muito antes de Freud, era evidente para um observador mais atento aos mitos em torno do suposto poder masculino, que a castração do inimigo resolveria todos os problemas. Só não ganharia a guerra...

(nas imagens ao lado podemos visualizar as diferenças anatômicas dos corpos considerados aptos para a guerra. Abaixo, vemos corpo de homem considerado com características femininas - note a disposição dos cabelos púbicos tendendo para uma distribuição lateral na parte superior. Acima, corpo de homem considerado como uma união da masculinidade com a combatividade. É possível perceber uma constituição quase fusiforme, que lembra os projéteis mortíferos em torno dos quais gira a vida do homem da guerra - note-se a disposição dos cabelos púbicos neste caso, sem a distribuição lateral eles parecem enfatizar o formato fusiforme do pênis do guerreiro; seria esta a única razão da exigência?)


Notas:

1. FRIEDMAN, David M. Uma Mente Própria. A História Cultural do Pênis. Tradução Ana Luiza Dantas Borges. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. P. 15.
2. Idem, p. 16.
3. Ibidem, pp. 17 e 23.
4. Ibidem, p. 24.
5. Ibidem, pp. 27 e 29.
6. Ibidem, p. 31.
7. BOURKE, Joanna. An Intimate History of Killing. Face-to-Face Killing in 20th Century Warfare. US: Basic Books, 1999. P. 30 e 99.

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