Este sítio é melhor visualizado com Mozilla Firefox (resolução 1024x768/fonte Times New Roman 16)

Roberto Acioli de Oliveira

Arquivos

7 de nov. de 2008

A Cultura da Arma na América do Norte (I)


Sempre a Europa

A noção de que a pólvora poderia ser usada para impulsionar um projétil parece ter se desenvolvido simultaneamente na Europa e na China. Foram encontrados esboços mostrando armas deste tipo em 1326 (Europa) e 1332 (China). Porém, se passariam séculos antes que as melhorias tecnológicas na área fossem vistas pelos europeus como algo mais do que curiosidades. As armas portáteis tiveram um desenvolvimento lento e foram objeto de suspeita e hostilidade. O cavalo era considerado uma ferramenta de guerra bem mais importante. Além disso, desde o começo a fascinação com as armas de fogo era um fenômeno urbano (1).

As pessoas e oficiais ligados aos armamentos militares não tinham idéia do que as armas de fogo representariam no futuro. As armas com lâminas haviam melhorado muito desde os tempos medievais enquanto o armamento tradicional com flecha demonstrava enorme potencial. O arco e flecha chinês do século 13 era letal acima de 400 metros, sendo mais letal do que os mosquetes do século 18. O arco e flecha europeu era menos eficiente, mas era largamente utilizado. A tecnologia da catapulta também foi aperfeiçoada no período medieval e seu desempenho continuou superior ao do canhão até a metade do século 15.

Tantos eram os problemas operacionais com as primeiras armas de fogo, que muitos não compreendiam a fascinação que levava os europeus a persistir acreditando que aquilo serviria para alguma coisa. Isso perdurou até o advento da baioneta no século 18. Em 1439 as armas de fogo portáteis foram utilizadas pela primeira vez, quando bolonheses abriram fogo contra seus rivais venezianos. Contudo, os venezianos venceram a batalha, imediatamente massacrando aqueles que utilizaram esta “inovação covarde e cruel”.

Entre a aristocracia européia, a crença de que as armas de fogo não eram adequadas para um cavalheiro persistiu até o século 17. A maioria dos aristocratas e dos soldados profissionais achava que armas de fogo minavam a habilidade militar e a masculinidade. Segundo esse ponto de vista, o combate deveria ser um teste de força, coragem e habilidade. Temia-se que qualquer pessoa do povo com treinamento no uso das armas de fogo poderia tornar-se perigosa para a classe dominante. Mas havia também outro motivo porque soldados profissionais odiavam armas de fogo: elas eram mortais. Muitas batalhas no final da Idade Média terminavam com poucas mortes, terminando com a rendição de um grupo para outro. Fazer prisioneiros era mais importante, ao passo que com armas de fogo não só se matava, mas nem mesmo se poderia saber quantos cairiam (2).

A transformação da guerra pelas armas de fogo veio, mas não imediatamente. Mesmo na Europa, centro do desenvolvimento das armas, os soldados carregavam uma grande variedade de armamento até o final do século 18. Foi apenas no final do século 19 que a grande virada aconteceu. O campo de batalha não mais seria formado por um conjunto de combates isolados, as armas de fogo necessitavam de mais coordenação e garantiam a um comandante muito mais controle do que qualquer líder feudal jamais exerceu. Mesmo assim, os militares se mantiveram céticos em relação às armas de fogo, normalmente considerando-as como um suplemento aos métodos tradicionais de luta.

Os governos também se mantinham reticentes em relação às armas de fogo. Acima de tudo, eles temiam a utilização dessa tecnologia pelos indivíduos e não apenas pelo exército. Nenhum monarca queria testar a hipótese de que apenas uma companhia de soldados poderia subjugar um bando de descontentes armados. As classes dirigentes não viam razão para aceitar qualquer nível de desordem social por causa da disponibilidade de armas. Como resultado, os governos integraram as armas de fogo apenas lentamente aos seus exércitos, ao mesmo tempo em que mantinham um olhar cauteloso e vigilante sobre a distribuição de armas aos civis – se é que isso aconteceu.

Portanto, somente a elite, o exército e, no caso da Inglaterra em 1541, aqueles que eram capazes de faturar mais de 100 libras por ano com suas propriedades, poderiam ter acesso às armas de fogo – a curiosidade do caso inglês é que, para ter direito de voto nas eleições municipais, a pessoa deveria possuir uma propriedade 50 vezes menos valiosa do que as 100 libras. Havia também o fato de que as armas de fogo eram mais difíceis de construir, portanto eram mais fáceis de regulamentar do que o arco e flecha (3).

Notas:

1. BELLESILES, Michael A. Arming America. The Origins of a National Gun Culture. New York: Alfred A. Knopf, 2000. Pp. 18-9.
2. Idem, p. 20.
3. Ibidem, p. 22.

Postagens populares (última semana)

Quadro de Avisos

Salvo quando indicado em algum ponto da página ou do perfil, este blog jamais foi patrocinado por ninguém e não patrocina nada (cursos, palestras, etc.), e jamais "doou" artigos para sites de "ajuda" a estudantes - seja no passado, presente ou futuro. Cuidado, não sejam enganados por ladrões da identidade alheia.

e-mail (no perfil do blog).
....

COMO CITAR ESTE BLOG: clique no título do artigo, verifique o link no alto da tela e escreva depois do nome do autor e do título: DISPONÍVEL EM: http://digite o link da página em questão ACESSO EM: dia/mês/ano

Marcadores

Action Painting Androginia Anorexia Antigo Egito Antonioni Antropologia Antropologia Criminal Aristóteles Armas Arquitetura da Destruição Artaud Arte Arte Degenerada Arte do Corpo Auto-Retrato Balthus Bat Girl Batman Baudrillard Bauhaus Beckmann Beleza Biblioclasta Body Art botox Brecht Bulimia Bullying Buñuel Burguesia Butô Cabelo Carl Jung Carnaval de Veneza Carolee Schneemann Castração Censura Cesare Lombroso Cézanne Chaplin Charles Darwin Charles Le Brun Chicago Cicciolina Ciência Ciência do Concreto Cindy Sherman Cinema Claude Lévi-Strauss Claus Oldenburg Clifford Geertz Clitoridectomia Close up Código Hays Comunismo Corpo Criança Cristianismo Cubismo Cultura Da Vinci Dadaísmo David Le Breton Descartes Desinformação Déspota Oriental Deus Diabo Distopia Erotismo Eugenia Europa Evgen Bavcar Expressionismo Fahrenheit 451 Falocentrismo Família Fascismo Fellini Feminilidade Feminismo Ficção Científica Filme de Horror Fisiognomonia Fluxus Fotografia Francis Bacon Francisco Goya Frankenstein Franz Boas Freud Frida Kahlo Fritz Lang Frobenius Futurismo Games Gaudí Gauguin George Lucas George Maciunas Giacometti Giambattista Della Porta Gilles Deleuze Giuseppe Arcimboldo Goebbels Grécia Griffith Guerra nas Estrelas H.G. Wells Herói Hieronymus Bosch História Hitchcock Hitler Hollywood Holocausto Homossexual HR Giger Idade Média Igreja Imagem Império Romano imprensa Índio Infibulação Informação Inquisição Ioruba Islamismo Jackson Pollock Jan Saudek Janine Antoni Johan Kaspar Lavater Judeu Judeu Süss Kadiwéu kamikaze Konrad Lorenz Koons Ku Klux Klan Kurosawa Le Goff Leni Riefenstahl Livro Loucura Loura Lutero Madonna Magritte Manifesto Antropofágico Maquiagem Marilyn Monroe Marketing Máscaras Masculinidade Masumura Maternidade Matisse Max Ernst Merleau-Ponty Michel Foucault Mídia Militares Minorias Misoginia Mitologia Mizoguchi Morte Muçulmanos Mulher Mulher Gato Mulher Maravilha Mussolini Nascimento de Uma Nação Nazismo Nova Objetividade Nudez O Judeu Eterno O Planeta Proibido O Retrato de Dorian Gray O Show de Truman Olho Orientalismo Orson Welles Orwell Oshima Ozu Palestinos Panóptico Papeis Sexuais Papua Paul Virílio Pênis Perdidos no Espaço Performance Picasso Piercing Pin-Ups plástica Platão Pornografia Primitivismo Privacidade Propaganda Prosopagnosia Protestantismo Psicanálise Publicidade Purgatório Puritanismo Racismo Razão Religião Retrato Richard Wagner Rita Haywood Robert Mapplethorpe Rosto Sadomasoquismo Salvador Dali Sartre Seio Semiótica Sexo Sexualidade Shigeko Kubota Silicone Simone de Beauvoir Sociedade Sociedade de Controle Sociedade Disciplinar Sociedades Primitivas Sprinkle Stanley Kubrick Suicídio Super-Herói Super-Homem Surrealismo Tatuagem Televisão Terrorismo Umberto Eco Vagina van Gogh Viagem a Tóquio Violência Walt Disney Woody Allen Xenofobia Yoko Ono Yves Klein

Minha lista de blogs

Visitantes

Flag Counter
Creative Commons License
This work is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-No Derivative Works 3.0 Brasil License.