Este sítio é melhor visualizado com Mozilla Firefox (resolução 1024x768/fonte Times New Roman 16)

Roberto Acioli de Oliveira

Arquivos

17 de nov. de 2008

A Cultura da Arma na América do Norte (II)


A Tendência Expansionista (e o Futuro Mercado de Armas?)

Entre os séculos 15 e 16, alguns governos europeus debatiam se deveriam substituir o arco e flecha pelas armas de fogo. Na virada para o século 17 havia dois tipos de arma: o arcabús e o mosquete. Um era pouco precisão no tiro, o outro muito dispendioso. Levava-se muito tempo para carregar e disparar, enquanto o arco e flecha disparava 12 flechas durante o tempo necessário para carregar um mosquete, além de ter um alcance maior. A relutância advinha do fato de que por muito tempo o arco e flecha fora o armamento padrão, responsável por algumas das vitórias mais decisivas durante 5 séculos. Porém, em 1595, o governo inglês decidiu substituí-lo pela arma de fogo.

Entretanto, já em 1590, nem mesmo nos primeiros assentamentos da colonização britânica da América do Norte havia um consenso sobre isso (1). Por outro lado, alguns acontecimentos deixaram claro que se a Inglaterra desejava competir pelo controle internacional nessa época, deveria desenvolver exércitos altamente treinados e organizados segundo o modelo da Europa continental.

A Inglaterra concluiu que deveria aderir àquela corrida armamentista. A França e a Espanha haviam aderido às armas de fogo, o que significava que seus exércitos passariam a ser reconstruídos a partir de soldados profissionais que necessitavam de anos de treinamento. Na Inglaterra, ainda existia uma visão medieval do cidadão-soldado sem treinamento especializado (daí o sucesso do arco e flecha), defendendo uma ilha isolada. Portanto, uma postura expansionista naquele momento, significava (esse era o debate) maior competitividade militar. Mas os Ingleses que defendiam esse expansionismo compreendiam as limitações das novas armas. Todo o debate girava em torno do fato de que se propunha substituir o arco e flecha em uma época onde ele ainda era uma arma superior.

A Arma e a Conquista da América do Norte

Em 1609, quando os franceses chegaram lá no Canadá, mais especificamente em Quebec, perceberam que para sua sobrevivência a melhor coisa a fazer era estabelecer alianças com os índios. Só que não dava para ser amigo de todo mundo! No caso daquela área, os índios eram os Huron, só que eles tinham inimigos, os Mohawk. Com seus arcabuses (um mosquete pequeno), três franceses acompanharam os Huron em uma expedição contra os Mohawk naquele mesmo verão. Então aconteceu uma das poucas batalhas na América do Norte durante o século 17, e foi quando as novas armas européias se provaram decisivas. No fundo, tudo foi resolvido com apenas um tiro.

Foram dois mortos e um gravemente ferido, e o restante dos Mohawks fugiu. Passariam décadas antes que outros europeus pudessem aterrorizar tanto os índios novamente com armas de fogo. Depois dessa fase, a resistência ao europeu aumentaria, uma vez que os índios finalmente perceberam que os estrondos e explosões das armas de fogo não eram a voz de nenhum espírito. (2).

É uma crença estabelecida que, no início da conquista das Américas, as armas de fogo significavam uma vantagem tecnológica que os índios nunca poderiam superar. Na verdade, armas de fogo eram curiosidades raras no século 16 quando a Espanha conquistou o México e grande parte da América do Sul. Elas também apareceram em números muito pequenos entre ingleses, holandeses e franceses no século 17, quando essas nações estabeleceram suas primeiras bases na costa leste da América do Norte. As armas de fogo não dominariam a guerra no Ocidente até o século 19. A supremacia européia também foi causada por: elemento surpresa, controle político centralizado, uma disposição para matar inocentes, superioridade de transporte, epidemias e muitos imigrantes. Ainda que as armas de fogo fossem chamadas de “milagre da cristandade” por um arcebispo inglês, elas estavam bem no fim da lista de vantagens gozadas pelos europeus (3).

Naquela época, talvez pela demorar em recarregar e falta de precisão de tiro, as armas de fogo eram mais efetivas para a defesa. Como os europeus queriam colonizar e não apenas conquistar, construiu-se muitos fortes, o que maximizava o uso das armas. Entretanto, as armas de fogo eram mais significativas como objetos de troca com os índios. Houve uma mudança na relação entre os índios armados e seus inimigos tradicionais. Ainda se afirme que a letalidade que alcançaram tinha mais a ver com os novos métodos do que com o material. Como ocorreu na Europa, a introdução das armas de fogo implicou uma mudança de ponto de vista no que diz respeito ao campo de batalha. A organização mudou ou, diriam alguns, ela finalmente chegou.

Notas:

1. BELLESILES, Michael A. Arming America. The Origins of a National Gun Culture. New York: Alfred A. Knopf, 2000. P. 23 e 26.
2. Idem, pp. 40 e 45.
3. Ibidem, 41.

Postagens populares (última semana)

Quadro de Avisos

Salvo quando indicado em algum ponto da página ou do perfil, este blog jamais foi patrocinado por ninguém e não patrocina nada (cursos, palestras, etc.), e jamais "doou" artigos para sites de "ajuda" a estudantes - seja no passado, presente ou futuro. Cuidado, não sejam enganados por ladrões da identidade alheia.

e-mail (no perfil do blog).
....

COMO CITAR ESTE BLOG: clique no título do artigo, verifique o link no alto da tela e escreva depois do nome do autor e do título: DISPONÍVEL EM: http://digite o link da página em questão ACESSO EM: dia/mês/ano

Marcadores

Action Painting Androginia Anorexia Antigo Egito Antonioni Antropologia Antropologia Criminal Aristóteles Armas Arquitetura da Destruição Artaud Arte Arte Degenerada Arte do Corpo Auto-Retrato Balthus Bat Girl Batman Baudrillard Bauhaus Beckmann Beleza Biblioclasta Body Art botox Brecht Bulimia Bullying Buñuel Burguesia Butô Cabelo Carl Jung Carnaval de Veneza Carolee Schneemann Castração Censura Cesare Lombroso Cézanne Chaplin Charles Darwin Charles Le Brun Chicago Cicciolina Ciência Ciência do Concreto Cindy Sherman Cinema Claude Lévi-Strauss Claus Oldenburg Clifford Geertz Clitoridectomia Close up Código Hays Comunismo Corpo Criança Cristianismo Cubismo Cultura Da Vinci Dadaísmo David Le Breton Descartes Desinformação Déspota Oriental Deus Diabo Distopia Erotismo Eugenia Europa Evgen Bavcar Expressionismo Fahrenheit 451 Falocentrismo Família Fascismo Fellini Feminilidade Feminismo Ficção Científica Filme de Horror Fisiognomonia Fluxus Fotografia Francis Bacon Francisco Goya Frankenstein Franz Boas Freud Frida Kahlo Fritz Lang Frobenius Futurismo Games Gaudí Gauguin George Lucas George Maciunas Giacometti Giambattista Della Porta Gilles Deleuze Giuseppe Arcimboldo Goebbels Grécia Griffith Guerra nas Estrelas H.G. Wells Herói Hieronymus Bosch História Hitchcock Hitler Hollywood Holocausto Homossexual HR Giger Idade Média Igreja Imagem Império Romano imprensa Índio Infibulação Informação Inquisição Ioruba Islamismo Jackson Pollock Jan Saudek Janine Antoni Johan Kaspar Lavater Judeu Judeu Süss Kadiwéu kamikaze Konrad Lorenz Koons Ku Klux Klan Kurosawa Le Goff Leni Riefenstahl Livro Loucura Loura Lutero Madonna Magritte Manifesto Antropofágico Maquiagem Marilyn Monroe Marketing Máscaras Masculinidade Masumura Maternidade Matisse Max Ernst Merleau-Ponty Michel Foucault Mídia Militares Minorias Misoginia Mitologia Mizoguchi Morte Muçulmanos Mulher Mulher Gato Mulher Maravilha Mussolini Nascimento de Uma Nação Nazismo Nova Objetividade Nudez O Judeu Eterno O Planeta Proibido O Retrato de Dorian Gray O Show de Truman Olho Orientalismo Orson Welles Orwell Oshima Ozu Palestinos Panóptico Papeis Sexuais Papua Paul Virílio Pênis Perdidos no Espaço Performance Picasso Piercing Pin-Ups plástica Platão Pornografia Primitivismo Privacidade Propaganda Prosopagnosia Protestantismo Psicanálise Publicidade Purgatório Puritanismo Racismo Razão Religião Retrato Richard Wagner Rita Haywood Robert Mapplethorpe Rosto Sadomasoquismo Salvador Dali Sartre Seio Semiótica Sexo Sexualidade Shigeko Kubota Silicone Simone de Beauvoir Sociedade Sociedade de Controle Sociedade Disciplinar Sociedades Primitivas Sprinkle Stanley Kubrick Suicídio Super-Herói Super-Homem Surrealismo Tatuagem Televisão Terrorismo Umberto Eco Vagina van Gogh Viagem a Tóquio Violência Walt Disney Woody Allen Xenofobia Yoko Ono Yves Klein

Minha lista de blogs

Visitantes

Flag Counter
Creative Commons License
This work is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-No Derivative Works 3.0 Brasil License.