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Roberto Acioli de Oliveira

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9 de jan. de 2010

Arte do Corpo: Jan Saudek e o Tempo




“Nossa vida é uma

jorna
da, uma jornada
até o fim da noite
...





Autobiográfico, o trabalho de Jan Saudek é único, foge a todas as classificações – ou, na sua classificação possível, ele está sozinho. Ele sempre esteve à frente de seu tempo: criava encenações para suas fotografias antes dessa onda aparecer, manipulava as imagens antes de isso virar moda, fotografava a si mesmo antes que os existencialistas começassem a fazer isso. A questão da identidade centraliza nossa atenção nas imagens criadas pelo fotógrafo Tcheco Jan Saudek, apresentando a condição humana em todas as suas contradições inerentes (1). Até o final dos anos 70 do século 20, seu trabalho era uma celebração da “Família Humana”, a apoteose da feminilidade, masculinidade, maternidade, paternidade, infância, amor... as questões do nascimento e da morte. Nos anos 80, a dualidade das emoções começa a aparecer em seu trabalho. A relação entre amor e ódio, sinceridade e dissimulação, beleza e feiúra, juventude e velhice. Elementos contraditórios que se complementam, criando uma tensão dramática. Nos anos 90 temos as questões concernentes ao sentido da vida. Focando na corporeidade, brutalidade, quase perversão e algum masoquismo, a obsessão de Saudek pelo corpo (qualquer corpo, seja velho, gordo ou deformado) não é guiada pela moderna estética do repugnante, mas por um hedonismo erótico.

Um fotógrafo que não acredita no acaso, Saudek não se aproveita daquilo que aparece no caminho. Ele busca infatigavelmente retratar o que tem no coração (imagem acima à esquerda, Hands, 1971; acima à direita, Card nº 358, 1988; à esquerda, ?, 1997; abaixo, Goodbye, Jan (I), 1994). Muitos são seus imitadores, mas falta em suas fotografias uma coisa que para Saudek é a diferença de seu trabalho: “Eu fotografo meus amados através do prisma do amor...” Qual é o tema de Saudek, futilidade cômica? Kitsch? Contos de fada obscenos de um exibicionista? Pornografia? Quando lhe perguntam o que essa ou aquela imagem significa, ele diz não saber:

“O artista também não compreende. Ele é um idiota, criando em função de um tipo de necessidade” (...)”É claro, todo esse esforço aflito, essa desesperada e obstinada tentativa de capturar aquelas poucas pessoas que eu amei, para gravar sua aparência de uma vez por todas, não é nada senão o antigo desejo sem sentido de parar o tempo. Minha câmera em minha mão e minha vida na minha frente – e ao comando, na moda militar: Alto!” (2)



O erotismo está presente
nas fotografias de Saudek
. Eróticas,
mas não vulgares
. A pornografia aponta
para o apetite sexual
, nas imagens de Saudek o erótico é apresentado
como parte da vida




Corpos nus, posições eróticas, algum sadismo, lesbianismo, hermafroditismo, vulgaridade. Saudek já foi acusado de fazer pura pornografia. Não se questiona que ele utilize alguns componentes pornográficos. Entretanto, sugere Daniela Mrázková, como um escritor que utiliza certo vocabulário que não ocorre na linguagem diária, Saudek lança mão de alguns artifícios que constituem tabu para a maioria das pessoas (seja porque suas imagens são muito intimistas ou simplesmente indecentes). (imagem ao lado, Mother and her Children, 2003; acima, à esquerda, The End of the Film, 1997)

Saudek faz uso sistemático de tudo que influenciou nossa cultura por milênios e não apenas sexo e o erotismo. A respeito disso, é curioso notar que a utilização de armas, ou cigarros, ou suicídios em suas fotografias, não parece causar o mesmo rebuliço! A distinção que ele faz entre arte e pornografia é bastante singela: “Para mim, a diferença entre pornografia e arte é simples – você pode olhar para a arte por uma eternidade, enquanto com a pornografia você dá uma olhada e coloca de lado porque tudo é explícito, não há mistério, a fantasia não tem lugar ali”. (3) (ao lado, The Dancer, 2003)


Foi através da publicidade que Saudek acompanhou a popularização de seus trabalhos mais ousados, quando então se abriram as portas das coleções públicas e privadas para sua obra. Paradoxalmente, as visões eróticas de Saudek parecem não caber no mundo de hoje: são eróticas, mas não são vulgares - e muitos confundem as duas coisas. O objetivo da pornografia é despertar o apetite sexual, Saudek trabalha com o exagero humorístico, apresentando expressões do erótico como parte da vida. Com isso, ele evita o banal e o kitsch, tudo que poderia (pela incompreensão e a preguiça) ser chamado de pornografia. (ao lado, The Disobedient Daughter, 2001)

Notas:

1. MRÁZKOVÁ, Daniela. Jan Saudek. Köln: Taschen, 2006. P. 48.
2. Idem, p. 42 e 44.
3. Ibidem, p. 44.

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