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Roberto Acioli de Oliveira

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25 de mai. de 2010

Entre o Terrorismo e o Martírio




“É mais que uma
religi
ão, é uma filosofia
de vida
. Uma filosofia de
vida não-individualista
,
diferente da do Ocidente
.
É uma ação individual

que tem um claro
objetivo coletivo”


Nissar Messari (1)




Desin
formação Já

Há quem diga que a prática de atentados suicidas começou na década de 80 do século passado quando o aiatolá Khomeini, então em guerra com o Iraque, baixou uma lei nesse sentido. A prática chegou então ao Líbano através do Hisbolá, que em 1983 explodiu a embaixada norte-americana em Beirute. Então a técnica teria passado para o Hamas, que passou a mandar gente se explodir em Israel (2). Alguns citam os Kamikazes japoneses durante a Segunda Guerra Mundial algumas décadas antes. Até aqui, parece que a auto-imolação é coisa de oriental – o velho clichê do Déspota Oriental. Mas o batido clichê que desvaloriza o mundo oriental cai quando outros citam Sansão. O personagem bíblico destruiu um templo Filisteu com as próprias mãos, morrendo no ato (3). (todas as imagens deste artigo mostram o ataque terrorista ao World Trade Center, com excessão das duas últimas; a penúltima mostra a explosão atômica em Hiroshima; a seguinte mostra uma das sobreviventes)

(...) [Os Estados Unidos]
são o único país que já
foi condenado pela Corte
Mundial
por terrorismo
internacional
(...)

Noam Chomsky (4)

É curioso que não se comente sobre o terrorismo praticado por Menahem Begin, ex-Primeiro-Ministro de Israel (de 1977 a 1983), durante os primeiros anos do pós-guerra, quando a Palestina ainda era um protetorado Britânico. Em 1947, ele foi responsável pelo atentado à bomba no hotel King David, em Jerusalém, então sede administrativa dos ingleses: 91 mortos. Muito embora o exemplo de Begin não envolta o suicídio do atacante, como no caso dos terroristas que se atiraram no World Trade Center em 2001, é inegável que envolveu a morte de pessoas inocentes que porventura estivessem naquele local na hora do ataque. O terrorismo de Estado praticado pelos Estados Unidos e por muitas das potências ocidentais em suas ex-colônias também não costumam ser lembradas. Até hoje, apenas um país usou a bomba atômica, os Estados Unidos. Além disso, não se dá a devida atenção e publicidade ao fato de que em Hiroshima e Nagasaki, as cidades japonesas bombardeadas, o alvo era, não há como negar, a população civil – não há documentário sobre a Segunda Guerra que diga que essas cidades eram alvos militares incontornáveis. Mudando um pouco de cenário, durante o governo do ex-Presidente Ronald Reagan, os Estados Unidos apoiou atos terroristas de Estado da então ainda racista África do Sul em que um milhão e meio de mortos e 60 bilhões em prejuízos materiais foram contabilizados (5).

A Posse do Próprio Corpo, Pelo Menos...



É no Ocidente que
a indústria
de armas
dá mais dinheiro
, mas
os terr
oristas suicidas
é que são loucos
...




O Xeque Ali Abdouni esclareceu que o suicídio é proibido pelo Alcorão, há não ser que alguém o pratique com o intuito de defender a liberdade e a justiça – sempre como último recurso, depois que todas as possibilidades de resolver os problemas se esgotaram. Abdouni percebe também que, no fundo, o que muda são as formas de luta – pois as guerras sempre existiram. Nestes termos, no Islamismo, o suicídio se transforma em martírio. O paraíso só é alcançado por aqueles com intenções puras e busca de justiça para os inocentes e oprimidos. Apenas Deus sabe se uma criatura é mártir ou não, explica Abdouni, pois somente Ele conhece o que se passa no íntimo de cada um de nós (6).



“Há vários
bin Ladens

de ambos os
lados
, como
sempre”

Noam
Chomsky (7)



Os mártires, ou Shahids, explicou Nissar Messari, não são pessoas desiludidas e desesperadas que buscam a morte. Os Shahids, ao contrário, devem ter amor à vida. Ao morrerem, eles passam a uma dimensão divina. Além das 72 virgens, elemento tão enfatizado pelos detratores, os mártires conquistam o direito de ver o rosto de Alá (o rosto de Deus). A família do mártir ganha status social e recebem dinheiro de organizações como o Hamas e o Jihad – que também possui escolas, creches, universidades e jornais. Os Shahids geralmente são jovens entre 18 e 27 anos, estudantes dedicados ao fundamentalismo islâmico. Eles não são voluntários, são escolhidos pelo mentor religioso da escola ou mesquita que freqüentam (8). Osama Bin Laden foi produzido pelos Estados Unidos para se por à invasão do Afeganistão pela ex-União soviética na década de 90 do século passado. Entretanto, quando o feitiço se vira contra o feiticeiro... Nas palavras de Noam Chomsky:

“O ódio é a maneira
de se expressar dos islâmicos
ra
dicais mobilizados pela CIA (...).
Os EUA se dispuseram a apoiar
,
com satisfação
, o ódio e a violência deles quando era dirigida contra
os inimigos dos EUA
; e ficaram contrariados quando o ódio que ajudaram a gerar foi dirigido contra eles próprios e seus aliados, como
tem acontecido
, repetidamente,
há vinte an
os (...) (9)

O Rabino Henry Sobel disse que o judaísmo proíbe o suicídio. Entretanto, explicou que é permitida a violação de qualquer lei judaica para salvar uma vida, incluindo a própria – a morte deve ser o último recurso. Sobel lembrou que o suicídio em massa ocorrido no ano 73 na fortaleza de Massada, sitiada pelos romanos, fez do local o mais conhecido símbolo do martírio judaico. Durante as Cruzadas, na Idade Média, também houve judeus que preferiram o suicídio a ter que se converter (10). Embora o primeiro preceito budista seja “não matar”, durante a Guerra do Vietnã alguns monges atearam fogo ao próprio corpo em sinal de protesto. A Monja Coen explicou que Isso não foi considerado uma quebra do preceito, mas uma oferta a Buda – o maior presente que se pode dar a Buda. Mas Coen esclareceu que não se deve fazer uma leitura literal dos textos sagrados. De acordo com Coen, os Kamikazes japoneses que durante a Segunda Guerra se atiravam sobre o inimigo, teriam feito uma leitura equivocada tanto do budismo quanto do xintoísmo (11).

Como sugeriu Fassbinder
certa vez
, o terrorismo foi
inventado pelo capitalismo
para justificar o aumento

da segurança dele mesmo



No fundo, toda essa discussão tem apenas uma origem: o terrorismo muçulmano. Porém, num contexto diferente daquele que o clichê impõe, poderíamos nos perguntar como o fez o cineasta alemão Rainer Werner Fassbinder, a quem realmente serve os homens-bomba? Se Fassbinder estava certo, então eles não passam de inocentes úteis que ajudam a aumentar o poder dos Estados policiais e os lucros da indústria armamentista que anda de braços dados com eles – da mesma forma que à indústria de armas e equipamentos de segurança interessa a manutenção dos índices de criminalidade e a continuação do conflito entre traficantes e policiais nos morros cariocas.

“Extremistas radicais islâmicos,
freqüentemente chamados ‘fundamentalistas’
,
eram os preferidos dos EUA
, nos anos 1980, por
se tratar dos melhores assassinos que se
poderiam encontrar à disposição


Noam
Chomsky (12)

Notas:

Leia também:

Isto é Hollywood!
Suicídio é Pecado Mesmo?
O Diferente (do Oriente) Como Bode Expiatório

1. ITUASSU, Arthur. O Martírio como Arma. Terrorismo Suicida se Firma Como Estratégia Palestina Indomável para Israel. Jornal do Brasil, sábado, 18/07/2001.
2. Idem.
3. Homem-Bomba. Santo ou Demônio?. Revista Carta Capital, ano IX, nº. 235, 09/04/2003. P. 38.
4. CHOMSKY, Noam. 11 de Setembro. Tradução Luiz Antonio Aguiar. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002. Pp. 27, 78 e 97.
5. Idem, p. 78.
6. Ver nota 3, pp. 39-40.
7. CHOMSKY, Noam. Op. Cit., p. 37.
8. ITUASSU, Arthur. Op. Cit.
9. CHOMSKY, Noam. Op. Cit., pp. 92-3.
10. Ver nota 3, p. 41.
11. Idem, pp. 42-3.
12. CHOMSKY, Noam. Op. Cit., p. 24.

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