Este sítio é melhor visualizado com Mozilla Firefox (resolução 1024x768/fonte Times New Roman 16)

Roberto Acioli de Oliveira

Arquivos

31 de ago. de 2012

O Deus Tubarão e o Bicho Homem


 

Nas artes
as referências
ao tubarão surgem no
século XIX. Por outro lado,
e como sugere Moby Dick,
naquela época a baleia
parecia apavorar
ainda mais





Os polinésios falavam de Kauhuhu, o deus tubarão que ficava numa grande caverna, palácio de onde nenhum visitante jamais retornou. Segundo a mitologia dos aborígenes da Austrália, o tubarão tigre Bangudja atacou um homem golfinho no golfo de Carpentária, aí deixando uma grande mancha vermelha que ainda pode ser vista hoje nas montanhas da ilha de Chasm. Os indígenas das ilhas Salomão, cuja religião é povoada por espectros, espíritos e outras manifestações sobrenaturais, acreditam que os corpos dos tubarões são habitados pelos fantasmas dos mortos. Entre os índios norte-americanos que habitavam a costa do Oceano Pacífico, as representações picturais de “cachorros do mar” eram frequentes, em memória de uma mulher que foi levada por um tubarão para se tornar um deles. Com exceção dos povos do Pacífico, as outras culturas jamais tiveram um tubarão como símbolo. As lendas europeias nunca mencionam esse animal, igualmente ausente das fábulas de Esopo. No mundo ocidental, os tubarões surgirão apenas nos livros de história natural ou nos livros de bordo dos marinheiros, onde se fala muito dessas criaturas às vezes de grande tamanho e muito misteriosas. De acordo com Richard Ellis, foi apenas recentemente que o terror em torno da imagem do tubarão entrou em nossa consciência coletiva, e talvez o cinema tenha muito a ver com isso. Depois de Tubarão (Jaws, direção Steven Spielberg, 1975), adaptação de um best-seller de Peter Benchley, espalhou o pânico pelo mundo (1). (imagem acima, Watson and the Shark, John Singleton Copley, 1778; abaixo, The Gulf Stream, Winslow Homer, 1899; há quem diga que o tubarão em primeiro plano na segunda pintura é uma cópia do tubarão da pintura de Singleton)


As poucas
pinturas do século
XIX que mostravam
 tubarões, sempre como
 animais ferozes, foram consideradas muito
 deprimentes, sem 
interesse



Em 1952, Ernst Hemingway fez referência ao tubarão em O Velho e o Mar. Antes disso, Willian Shakespeare fez o mesmo no século XVII, em Macbeth (ato IV, cena 1). Ellis resgatou em 1987 o relato de Moses, um indígena da ilha de Malaita, no arquipélago das ilhas Salomão, no Pacífico sul. Nessa lenda antiga, Moses conta que três anos antes estava pescando e um tubarão se prendeu em sua rede. Ele o levou para a praia e o soltou, em nenhum momento o animal tentou mordê-lo. Na terra de Moses, desde tempos imemoriais, seu povo convive com os tubarões, que são considerados seres humanos. Eles salvam os seres humanos de afogamentos e os guiam pelo mar. Entretanto, aparentemente, os aborígenes de outras partes não são respeitados, mas comidos pelos tubarões. Moses explicou que a razão disso está na lenda de uma mulher que deu a luz um tubarão, desde então o peixe é venerado e deixaram de atacar os humanos da laguna onde vive seu povo. O espírito daquela mulher entrou no tubarão, razão pela qual venerar o tubarão é o mesmo que venerar os ancestrais da tribo. Em certa ocasião festiva, o povo de Moses “chama” os tubarões até a praia e oferece a mesma carne de porco que eles estão comendo. Enquanto isso, mulheres e crianças nadam entre os tubarões, falando com eles e os acariciando. Não tentem lidar com os tubarões como o povo de Moses, a não ser que tenham o corpo “blindado” (fechado?), como certos políticos brasileiros.


Nota:

Leia também:

1. ELLIS, Richard. Mythe et Realite. In: STEVENS, John D. Les Requins. Paris: Bordas, 1987. Pp. 170-183.
 

Postagens populares (última semana)

Quadro de Avisos

Salvo quando indicado em algum ponto da página ou do perfil, este blog jamais foi patrocinado por ninguém e não patrocina nada (cursos, palestras, etc.), e jamais "doou" artigos para sites de "ajuda" a estudantes - seja no passado, presente ou futuro. Cuidado, não sejam enganados por ladrões da identidade alheia.

e-mail (no perfil do blog).
....

COMO CITAR ESTE BLOG: clique no título do artigo, verifique o link no alto da tela e escreva depois do nome do autor e do título: DISPONÍVEL EM: http://digite o link da página em questão ACESSO EM: dia/mês/ano

Marcadores

Action Painting Androginia Anorexia Antigo Egito Antonioni Antropologia Antropologia Criminal Aristóteles Armas Arquitetura da Destruição Artaud Arte Arte Degenerada Arte do Corpo Auto-Retrato Balthus Bat Girl Batman Baudrillard Bauhaus Beckmann Beleza Biblioclasta Body Art botox Brecht Bulimia Bullying Buñuel Burguesia Butô Cabelo Carl Jung Carnaval de Veneza Carolee Schneemann Castração Censura Cesare Lombroso Cézanne Chaplin Charles Darwin Charles Le Brun Chicago Cicciolina Ciência Ciência do Concreto Cindy Sherman Cinema Claude Lévi-Strauss Claus Oldenburg Clifford Geertz Clitoridectomia Close up Código Hays Comunismo Corpo Criança Cristianismo Cubismo Cultura Da Vinci Dadaísmo David Le Breton Descartes Desinformação Déspota Oriental Deus Diabo Distopia Erotismo Eugenia Europa Evgen Bavcar Expressionismo Fahrenheit 451 Falocentrismo Família Fascismo Fellini Feminilidade Feminismo Ficção Científica Filme de Horror Fisiognomonia Fluxus Fotografia Francis Bacon Francisco Goya Frankenstein Franz Boas Freud Frida Kahlo Fritz Lang Frobenius Futurismo Games Gaudí Gauguin George Lucas George Maciunas Giacometti Giambattista Della Porta Gilles Deleuze Giuseppe Arcimboldo Goebbels Grécia Griffith Guerra nas Estrelas H.G. Wells Herói Hieronymus Bosch História Hitchcock Hitler Hollywood Holocausto Homossexual HR Giger Idade Média Igreja Imagem Império Romano imprensa Índio Infibulação Informação Inquisição Ioruba Islamismo Jackson Pollock Jan Saudek Janine Antoni Johan Kaspar Lavater Judeu Judeu Süss Kadiwéu kamikaze Konrad Lorenz Koons Ku Klux Klan Kurosawa Le Goff Leni Riefenstahl Livro Loucura Loura Lutero Madonna Magritte Manifesto Antropofágico Maquiagem Marilyn Monroe Marketing Máscaras Masculinidade Masumura Maternidade Matisse Max Ernst Merleau-Ponty Michel Foucault Mídia Militares Minorias Misoginia Mitologia Mizoguchi Morte Muçulmanos Mulher Mulher Gato Mulher Maravilha Mussolini Nascimento de Uma Nação Nazismo Nova Objetividade Nudez O Judeu Eterno O Planeta Proibido O Retrato de Dorian Gray O Show de Truman Olho Orientalismo Orson Welles Orwell Oshima Ozu Palestinos Panóptico Papeis Sexuais Papua Paul Virílio Pênis Perdidos no Espaço Performance Picasso Piercing Pin-Ups plástica Platão Pornografia Primitivismo Privacidade Propaganda Prosopagnosia Protestantismo Psicanálise Publicidade Purgatório Puritanismo Racismo Razão Religião Retrato Richard Wagner Rita Haywood Robert Mapplethorpe Rosto Sadomasoquismo Salvador Dali Sartre Seio Semiótica Sexo Sexualidade Shigeko Kubota Silicone Simone de Beauvoir Sociedade Sociedade de Controle Sociedade Disciplinar Sociedades Primitivas Sprinkle Stanley Kubrick Suicídio Super-Herói Super-Homem Surrealismo Tatuagem Televisão Terrorismo Umberto Eco Vagina van Gogh Viagem a Tóquio Violência Walt Disney Woody Allen Xenofobia Yoko Ono Yves Klein

Minha lista de blogs

Visitantes

Flag Counter
Creative Commons License
This work is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-No Derivative Works 3.0 Brasil License.