Não, não se trata de um romance policial. Embora pretenda levantar algumas pistas sobre alguém. O desaparecido tem uma história muito incomum. À primeira vista, é uma figura bem presente, até mesmo inconveniente. De fato, podemos dizer que esse tal não sai de cima da gente! Nem de dentro também. Quando nos olhamos no espelho, achamos que o estamos vendo.
Primeiro problema, se quando nos olhamos o estamos vendo, então quando vamos nos ver? Quer dizer, se, para se ver, você tem que olhar para outra coisa que não é você ... Ao problema anterior poderíamos responder: meu corpo é parte de mim! Então é a mesma coisa que dizer: eu sou meu corpo?
Se você diz que seu corpo é parte de você, seu corpo é visto como um elemento à parte. Uma peça que pode ou não ser vista como relevante em sua vida. Neste caso, fica mais fácil negar seu corpo quando ele não te satisfaz. Sendo um acessório (um objeto), você faz coisas com seu corpo sem perguntar o que ele pensa disso. Se ele não é você, apenas acessório, então repete-se o que faz quando quer saber algo sobre alguém...
Como é que vou perguntar alguma coisa a meu corpo?
Será que no fundo você acaba fazendo sua própria vontade, sem ver em seu corpo um interlocutor? Você responde então que o corpo não é só um objeto mudo e que quando quer perguntar como ele está passando você vai ao médico! “O corpo fala”, você diz! Fala através dos exames de sangue, dos raios X, do resfriado. Mas eu me pergunto se o corpo também é capaz de falar outros idiomas. Mas não queremos saber, ele que se adapte à nossas vontades. Então seguimos acreditando que ele não vai nos trair e abandonar essa servidão...