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Roberto Acioli de Oliveira

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3 de fev. de 2008

Comentário Sobre o Comportamento Sexual Feminino


Um corpo
perfeito
não basta




Segundo o psicanalista Jurandir Freire Costa, estamos vivendo um estado de prontidão afetiva (1). Dada a estética de culto ao corpo, as pessoas evitam cada vez mais expor seu lado afetivo, apostando na busca da felicidade apenas no âmbito das sensações. O problema, completa Jurandir, é que as pessoas não conseguem satisfação porque acabam percebendo que um corpo perfeito não basta.

Segundo o psicanalista, nos últimos trinta anos estamos vivendo uma transição da cultura dos sentimentos (que imperou por quase três séculos) para a cultura das sensações. Nesta última perspectiva, todas as fichas são apostadas no culto ao corpo belo, não obeso e jovem. Jurandir teme que os custos emocionais do ideal inatingível de beleza que nutre essa cultura das sensações sejam caros demais.

“No tempo do amor romântico, as pessoas sacrificavam a própria vida por amor. Hoje você não sacrifica a sua liberdade sexual, a sua beleza, a academia de ginástica por amor algum” (2). (...) “As pessoas querem estar em boa forma, ser jovens, magras e viver felizes. Mas o que é ser feliz? A felicidade é basicamente sentimental porque o romantismo amoroso é o que dá sentido à vida privada”. (3)

“A mulher de verdade não é perfeita”. Entretanto, na cultura das sensações, não adianta você ser uma mulher fiel e sensível se você é gorda! As pessoas querem amar, mas não conseguem, são eternamente infelizes com sua imagem corporal. Desta forma, a partir do que Jurandir chamou de distúrbios de imagem corporal, tornam-se infelizes porque não encontram quem amar, não conseguindo exercer o afeto. Não é que elas não saibam amar, ou sejam pobres afetivamente. O problema é que ou elas estão fora do padrão de beleza da cultura da sensação ou acreditam que estão. Resultado: epidemia de depressões leves tratadas com Prozac.

“A professora de ginástica Izabel Ramalho, da academia Pró-Forma, no Leblon [RJ], diz que a preocupação exagerada das mulheres com o corpo contrasta até com o ideal feminino propagado pelos homens”:

- Os meus alunos vivem dizendo que o importante é o conjunto. Não importa uma celulite aqui, uma barriguinha ali, mas sim um conjunto atraente. Isso é o que interessa. E as mulheres não aprendem.

Para a atleta Dora Bria, só a maturidade dá à mulher a consciência de que ela vale muito mais que uma bela aparência:

- Eu aprendi que homem só gosta de mulher perfeita para um dia. Depois, assusta-se e foge. Logo, é mais vantagem ser uma mulher normal”.(4)

É claro que não podemos tomar como regra algumas opiniões de homens freqüentadores de academias de ginástica do Leblon. Mas um bom observador poderá, aqui e ali, perceber que de fato a unanimidade em torno desse culto ao corpo não é tão unânime assim. A opinião de Dora Bria também parece apontar para o fato de que uma mulher perfeita (fisicamente) torna-se muito cara ao longo do tempo, além de ter pouca disponibilidade – uma vez que a ginástica e os cremes são mais importantes que os parceiros/parceiras que possibilitaram conquistar. Muito cara porque a indústria da beleza cobra caro. Do ponto de vista da mídia televisiva, avaliar em que momento alguém está sendo sincero quando renega essa cultura da sensação pode ser meio difícil, já que todos ali vivem da exposição pública. A não ser que seu discurso seja bem claro e direto. Eu arriscaria um exemplo deste caso. Ironicamente, um discurso explícito contra o culto ao corpo e à hipersexualização surge num programa cujo tema é exatamente o sexo explícito.

O programa Noite Afora, que era veiculado pela Rede TV há alguns anos atrás, tinha como temática a vida erótica e sexual. Apresentava strip tease e reportagens sobre vida sexual. O curioso é que a apresentadora e ex-modelo Monique Evans falava quando podia que não gostava do “durante”, só do “antes” e do “depois”. Outro detalhe interessante é que, ao entrevistar bandas como a que lançou uma música que chamava as mulheres de cachorras, suas dançarinas disseram que não gostariam de ser chamadas assim. Outra moda era a da música que falava que “um tapinha não dói”. Monique fez a mesma pergunta, se as dançarinas gostavam disso. Responderam que não. Estes exemplos mostram que mesmo num programa que pretende falar sobre sexo apenas em seu viés erótico, aquelas pessoas de quem se espera que assumam um comportamento hipersexualizado não o fazem. Na verdade, muitas se mostram bastante convencionais e conservadoras sexualmente.

Por outro lado, do ponto de vista dos clichês da mídia, não deixa de chamar atenção o fato de que tal comportamento demonstra o desinteresse em identificar o conteúdo sexual com os interpretes. Quer dizer, o que se esperaria da apresentadora é que ela fizesse (ou fingisse fazer) do sexo pelo sexo um estilo de vida. O mesmo para as dançarinas desses grupos musicais onde as letras são machistas e hipersexualizadas.


Leia também:

As Mulheres de Luis Buñuel
Luis Buñuel, Incurável Indiscreto
Conexão Seios (I), (II), (III), (epílogo)
Imagem Corporal e Satisfação
O Rosto e a Ética na Televisão
O Gande Irmão Está Vendo Você
A Cegueira da Visão (I), (II), (final)

Notas:

1. CEZIMBRA, Marcia. PRONTIDÃO AFETIVA. Psicanalistas dizem que a busca obsessiva por boa forma, sensualidade, beleza e juventude não traz felicidade. O GLOBO, Jornal da Família. 6/04/2003. Pp. 1-2.
2. Idem, p. 1.
3. Ibidem, p. 2. O grifo é meu - Nota do Autor.
4. Ibidem. 


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