Tomamos o sentido da visão como um dado em si. Tendemos a acreditar que olhar e ver, ou olhar e compreender aquilo que se olha, são coisas equivalentes. O máximo que fazemos com relação à visão é distingui-la do estado de cegueira, seja parcial ou absoluta. Ou nascemos já cegos, ou desenvolvemos a perda da visão ao longo da vida. O mais comum é percebermos a perda progressiva ao longo da vida em relação à capacidade de distinguir detalhes. Na cultura ocidental contemporânea tudo gira em torno da visão. Tudo é muito “visual”. Considere então a existência de uma disfunção orgânica que, ainda que não faça você perder a capacidade de ver, impede que seu cérebro organize as imagens permitindo que você possa reconhecer os rostos das pessoas à sua volta – incluindo aqueles de seus próprios familiares e amizades.
Prosopagnosia é o nome científico desta disfunção, que se caracteriza pela incapacidade em distinguir rostos. O termo é grego, prosopo (rosto) + agnosia (incapacidade para reconhecer). Podemos chamar de “cegueira facial”. Existe um pequeno ponto no centro do cérebro com apenas uma função, reconhecer um rosto em um décimo de segundo. A cegueira facial é uma disfunção deste pequeno ponto. Para quem tem cegueira facial, todo rosto é o rosto de um estranho. A pessoa não consegue fazer a leitura da linguagem não-verbal que nós normalmente fazemos quase automaticamente. É possível reconhecer um sorriso, mas não dá para saber se é um sorriso sarcástico, forçado ou feliz. Toda a carga não-verbal das mensagens que podemos passar pelo olhar (olhos tristes, por exemplo) não é captada por alguém com cegueira facial.
Documentada desde centenas de anos antes de Cristo, só foi nomeada em 1947, sendo considerada uma condição muito rara. Atualmente, o diagnóstico já é possível, mas ainda é muito difícil. Existe a hipótese de que haja uma ligação com autismo ou Síndrome de Asperger. Não há cura, apenas métodos para o reconhecimento de rostos. Por exemplo, podem se concentrar nas vozes das pessoas, movimentos característicos, cortes de cabelo, barba. Compreende-se então porque as pessoas que tem cegueira facial dizem ter grandes problemas com uniformes. Para ficar claro, não é a visão de alguém que é ruim, mas sua capacidade de reconhecer os rostos das pessoas. É como quando temos pouca capacidade de distinguir vozes, podemos ouvi-las perfeitamente, apenas não conseguimos ligar cada som a uma pessoa em particular – mesmo que seja uma pessoa próxima.