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Roberto Acioli de Oliveira

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28 de mai. de 2012

Arte do Corpo: Annie Sprinkle




O palco
de Annie Sprinkle
é seu próprio
corpo





Annie Sprinkle é o nome de guerra de uma atriz pornô norte-americana que começou a fazer performances com temas relacionados à sexualidade – ela também é/foi prostituta, stripper, dominatrix (aquela que exerce o papel de dominadora em relações sexuais sadomasoquistas), produtora de filmes de sexo e escritora pornô. Entre as décadas de 80 e 90 do século passado, ela se graduou em fotografia e sexualidade humana. Ela ficou famosa em 1990 quando apresentou Public Cervix Announcement, uma cena de Post Porn Modernism (1990), no palco de um teatro burlesco. Depois de falar sobre seus vários empregos na indústria pornô (ilustrando suas conquistas através de gráficos), masturbar-se e tomar um banho, Sprinkle reconsta numa cadeira no palco, abre as pernas e introduz um espéculo na vagina. A partir daí, convida a plateia a se aproximar para olhar (com a ajuda de uma lanterna) diretamente para o colo do útero de Sprinkle – invariavelmente, uma fila se forma na frente do palco. Durante todo o tempo de cabeça erguida olhando direto para o público, ela inverte as relações de poder entre sujeito e objeto (1).

Rebecca Schneider insiste a aparição de Sprinkle (e outras atrizes com performances sexuais) nos espaços tradicionalmente reservados à arte seriam bem vindos, no sentido de que permitem o debate renovado sobre o estatuto da arte. Segundo Schneider, os contextos da arte sempre foram tradicionalmente considerados domínio da forma simbólica, portanto implicando um distanciamento estético de “desinteresse”. A pornografia ameaça esse desinteresse, inundando o ambiente com sexualidade “interessada”. No emaranhado de questões implícitas em trabalhos que desafiam a arte através da pornografia, o colapso do simbólico no literal e vice-versa é fundamental, afirma Schneider. Colapso que é duplicado por outro, da obscenidade na sacralidade e vice-versa – assim como Sprinkle e outras migraram da pornografia para a arte, outras mulheres fizeram o caminho inverso. Em qualquer um desses casos, o palco dessas mulheres é seu próprio corpo. Schneider compara a performance de Sprinkle duas obras famosas que mostram o corpo feminino, uma pintura, A Origem do Mundo (Gustave Courbet, 1866), e uma instalação, Etant Donnés: la chute d’eau; le gaz d’eclairage (Marcel Duchamp, 1946-66).

Os dois mostram praticamente apenas a genitália feminina, podendo ser considerados pornográficos. Porém Annie Sprinkle vai além, ela mostra seu rosto de mulher (2).

Notas:

1. WARR, Tracey; JONES, Amelia. The Artists Body. London: Phaidon, 2000. P 110.
2. SCHNEIDER, Rebecca. The Explicit Body in Performance. New York: Routledge, 1997. Pp. 16-7, 64.

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